Dentre os seres ‘iluminados e imortais’ que, desde o Brasil, encantaram o mundo, a luz do Tigrão brilha mais intensamente que todas.
Por Américo Teixeira Jr.
Neste domingo, 25 de fevereiro de 2024, em emocionante cerimônia, Wilson Fittipaldi Jr. foi sepultado no Cemitério da Paz, no bairro paulistano do Morumbi. Exatos dois meses antes, no dia de Natal e de seu 80º aniversário, uma parada cardíaca provocada por um engasgo provocou sua derradeira internação. Seu coração parou de bater às seis horas da manhã da sexta-feira, 23. Ontem, em Interlagos, foi alvo da maior homenagem que um piloto brasileiro poderia receber ao percorrer a pista pela última vez. Nesta manhã de sol na capital paulista, baixou para sua “última morada”.
A repercussão mundial de seu falecimento foi gigantesca e toda a carreira de Wilson Fittipaldi Jr. foi recontada nessas últimas 48 horas. Às pressas, muitos dos relatos de sua longeva vida dedicada ao automobilismo trouxeram dados errados, avaliações equivocadas e visões limitadas sobre o que representou. Mas, tudo bem, numa era em que a correção jornalística tem perdido de 7 a 1 para o imediatismo, foi evidente o esforço para homenageá-lo.
Nessa mistura de reverência com homenagem, num esforço de celebrar a memória de um gigante do esporte, ainda assim faltou calibrar o tom do reconhecimento. Terá sido em razão da quase crônica deficiência em enxergar para além de um palmo diante do rosto, que acomete secularmente a sociedade brasileira? Se agora mesmo, nos dias atuais, a capacidade obtusada impede a percepção de uma realidade que estapeia a todos nós diariamente, o que dizer da luta de um homem “que fez um carro e nunca ganhou nada”?
Sim, Wilson era filho do Barão, irmão de Emerson, pai de Christian, mas falhamos em ensinar para as novas gerações – e mesmo à velha, mal-acostumada com vitórias aos borbotões de uma época que jamais voltará – que estamos nos despedindo da personalidade mais importante da história do automobilismo brasileiro.
Salva-me de ser rotulado como oportunista uma entrevista que dei em 2022 ao programa Ao Volante, convidado que fui pelos gentis Gildo Pires e Plínio Calenzo, no qual tive a oportunidade de dizer: “Nem Emerson, nem Nelson, nem Ayrton. O nome mais importante do automobilismo brasileiro se chama Wilson Fittipaldi Jr”. Paulo “Loco” Figueiredo, prova viva de que anjos existem, também é testemunha desta afirmação.
Carro de corrida tem alma – O piloto é o símbolo principal do automobilismo. A ele são dirigidas as mais intensas manifestações por parte do público. Nesse quesito, o Brasil é “doutor”, mas também metido e mal-acostumado, afinal, “como pode um brasileiro não ganhar?”. Se não ganhou, no jeito brasileiro de ser, é despejado de um lugar de destaque para fazer par com a Geni, aquela lambuzada do Zepelim (Google, pessoal, Google).
Mas a essência suprema do automobilismo é o carro de corrida. Quando um carro de corrida é construído e entregue ao piloto, está posta a alma do automobilismo. Sim, porque o ajuntamento de peças e dispositivos está longe da inanimação, ele pulsa de emoção, paixão e amor.
Tudo em Wilson era superlativo e foi dessa forma, como um ‘tigre’, trafegou de maneira sempre intensa por todas as camadas que formam o automobilismo. Ele dedicou tanta paixão ao esporte, como lhe era próprio, ía lá e fazia. Pois, vejamos:
– Desejou ser piloto; chegou à Fórmula 1;
– Desde jovem se interessou pela construção de carros; criou uma equipe e construiu um Fórmula 1;
– Foi muito duro com o filho piloto, mas Christian Fittipaldi foi bem longe e se tornou quem é;
– Optou por voltar a correr no Brasil; ganhou provas na Stock Car, Endurance e GT;
– Quando quis voltar à origem, criou um carro de Fórmula Vê com outro ‘maluco’, o genial Ricardo Divila, e se tornou, por anos, professor de jovens pilotos;
– Quando ficou doente, quase foi desta algumas vezes, mas quem nasceu Wilson Fittipaldi Jr. não desiste a caminho do Bojador. Peitou a doença, suportou com valentia o alto preço que lhe foi cobrado e comemorou 80 anos;
– Era o maior de todos em vida; agora, o é na Eternidade.
Obrigado, meu querido.
Foto destaque: Com apresentação do jornalista Celso Miranda (dir.), Wilson Fittipaldi Jr. foi homenageado com o Capacete de Ouro da revista Racing, comandada pela jornalista Isabel Reis, por sua vitoriosa carreira. Segurando o microfone, Paulo "Loco" Figueiredo, parceiro incansável do Tigrão. - Brasília, DF, 04.02.2022.
Que matéria genial e de coração, tinha que ser do grande e querido Américo Teixeira!! Sempre muito sensível, carinhoso e contundente !! Parabéns Américo!! Sou seu fã !!