Apesar de sair ileso de um acidente terrível, piloto holandês viu diminuída uma vantagem até então crescente porque foi imprudente e arrogante
Por Américo Teixeira Junior
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Ao longo dos últimos anos, tenho revisto algumas posições no automobilismo. Uma delas é sobre o chamado “acidente de corrida”, normalmente assim descrito quando não há culpados. Apesar de ser um rótulo consagrado e muito utilizado, tendo agora a achar um pouco diferente. Numa frase, acidente de corrida não existe, assim como sorte e azar.
Chamamos do que quisermos, mas todo acidente tem uma explicação, uma dinâmica. Se dois carros buscam ocupar o mesmo espaço num determinado instante da competição, o choque ocorre porque alguém tentou contrariar uma verdade da física e, portanto, sempre há um responsável, um causador, um culpado.
Sob essa lógica, Max Verstappen foi o responsável pelo acidente da primeira volta do GP da Inglaterra, realizado hoje em Silverstone e válido pela 10ª etapa do Campeonato Mundial de Pilotos e Construtores de Fórmula 1.
O líder da pontuação e o heptacampeão Lewis Hamilton, ocupantes da primeira fila nessa ordem, “incendiaram” os fãs do mundo todo com alto grau de disputa e arrojo na primeira volta, que não chegou a ser completada pelo piloto da Red Bull.
Largando na parte externa, Verstappen partiu em diagonal, para a direita. Hamilton largou com um movimento levemente para a esquerda, mas precisou deslocar seu carro mais para a parte interna, visto a trajetória do holandês em sua direção. Ambos contornaram a Abbey (curva 1), à direita, emparelhados, com Verstappen na parte externa. Logo a seguir, à esquerda (Farm), o “capitão” do Exército Laranja” manteve a trajetória e saiu da curva dois na liderança.
Foi Hamilton quem tentou ficar por fora na Village, na tentativa de assumir a ponta na quarta curva do circuito (The Loop), por dentro, em nova sequência direita/esquerda, em que pese mais fechada. Não funcionou. Verstappen fez a Aintree e entrou na reta. Hamilton emparelhou e contornaram a Brookland lado a lado. Novamente o carro da Red Bull permaneceu na frente nos contornos da Luffield e Woodcote, até a chagada na Copse, local do acidente.
Hamilton colocou por dentro, ameaçou um ir para o lado de fora e recolheu, parecendo um drible de jogador de futebol, enquanto Verstappen ziguezagueava na sua frente. O piloto da Mercedes-AMG chegou na frente para o tangenciamento que lhe era favorável, mas com Verstappen ali do lado, por fora, buscando a manutenção da dianteira no mesmo ponto da curva.
Nenhum dos dois aliviou, a tal lei da física foi contrariada, houve o toque entre ambos e Verstappen parecia um míssil pela área de escape, até bater no muro, antecedido por uma agora danificada barreira de pneus.
A violência da pancada foi de tirar o fôlego, dessas que fazem parar a respiração por sua gravidade. Somente alguns momentos depois, quando Verstappen conseguiu sair sozinho dos escombros daquele que até há instantes era um carro de Fórmula 1, verificou-se que estava bem. Zonzo, assustado, emputecido, mas bem.
Enquanto a apreensão se transformava em alívio, Charles Leclerc assumia a ponta atrás do Safety-Car, seguido por Hamilton com a asa dianteira esquerda avariada. Na abertura da volta 2, a direção da prova “desfraldou” a bandeira vermelha.
As equipes rivais se acusaram mutuamente – e seria inacreditável se não fosse assim – e seria esse o momento de considerar a ocorrência do tal “acidente de corrida”. Mas Verstappen ignorou a presença de Hamilton, que já estava na tangência, e mergulhou na Copse. Da forma que fez, só haveria uma chance de o acidente ser evitado: tirada de pé por parte de Hamilton. A ação ofensiva falhou porque houve alívio.
Max entrou no caminho na base do “sai da frente que eu estou passando”. Bateu, desperdiçou uma chance maiúscula de ampliar sua vantagem. Resumo da ópera: Max Verstappen errou.
Capa/Destaque: Reprodução F1TV
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