sexta-feira, março 29, 2024

Exclusivo: Dílson Motta conta os bastidores da revolução que está promovendo na Fórmula 3

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dilson-motta2O evento que ocorrerá neste final de semana, em Brasília, não será tão somente a abertura da 23ª edição do Campeonato Sul-americano de Fórmula 3. Mais do que isso, o Autódromo Internacional Nelson Piquet será o palco para uma categoria que passa por uma verdadeira revolução comandada por Dílson Motta (Foto), seu promotor desde a temporada passada. Ex-executivo de marketing do setor financeiro e sócio proprietário da 63MKT, Dílson falou com exclusividade ao Diário Motorsport nesta terça-feira, em meio aos diversos compromissos que devem fazer, desta, uma das semanas mais movimentadas de sua carreira. A rodada deverá reunir 11 carros da classe A e seis na Fórmula 3 Light, com treinos já a partir desta quinta-feira

Por “revolução” entenda-se a atualização técnica dos chassis da Fórmula 3. Pela primeira vez estarão nas pistas brasileiras, em competição, os novos Dallara F309, os mesmos que atuam nas similares européias. Não seria motivo para tanto alarde se tivesse havido a renovação permanente a partir de 2001, quando o F301 da fábrica italiana passou a equipar nossos grids. Vontade não faltou, evidentemente, mas os recursos financeiros para tanto, certamente. Não que agora eles existam, mas o diferente na atual gestão da Fórmula 3 é a ousadia.

Para resumir a história, Dílson Motta pegou dinheiro emprestado no banco, comprou 20 chassis na Itália e está vendendo a prestação para as equipes. Simples, né? De forma alguma, pois detrás desta explicação simplista há toda uma operação que não passou despercebida no meio automobilístico brasileiro. Chamaram-no de tudo. De “corajoso”, “estrategista” e “visionário” a “completamente louco”, “iludido” e “inexperiente” nas coisas do esporte. Fato é que, independentemente dos adjetivos, o sonho da nova Fórmula 3 é uma realidade.

COMPROMISSO PELA RENOVAÇÃO

O primeiro passo, para que essa nova Fórmula 3 pudesse existir, foi constatar a necessidade urgente de reerguê-la, visto que seus atrativos estavam minguando. Houve, por assim dizer, um pacto entre o promotor e os donos de equipe, um verdadeiro comprometimento para que essa nova condição fosse criada.

Evidentemente, o obstáculo mais presente era justamente a falta de recursos financeiros e o quadro de quase falência mundial, cujo ápice surgiu em novembro do ano passado, quase que transformou tudo em pesadelo. Mas tal operação foi possível depois de Motta assumir um empréstimo no Banco Real (hoje pertencente ao grupo espanhol Santander), onde atuou como superintendente de eventos, promoções e patrocínio, de 1991 a 2005. No período, entre outras inúmeras atividades, comandou as diversas ações do banco na parceria com o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1.

O negócio, realizado em fevereiro, foi feito por meio da empresa fundada por ele em 2005, a 63 MKT, da qual é sócio proprietário. Consistiu em captar, no mesmo banco no qual trabalhou por 14 anos, o valor de R$ 3,6 milhões para adquirir os chassis. Essa foi a maneira encontrada para promover a atualização técnica desejada. “Era necessário alguém que tivesse esse crédito. As equipes poderiam negociar diretamente com a Dallara, mas algumas teriam crédito, outras não”, explicou Motta.

De posse dos carros, a empresa vendeu os F309 para as equipes na base do “carnê das Casas Bahia”, a prestação. Na verdade, houve vários acordos em separado, mas a maioria optou pelo formato de pagamento em 36 prestações de R$ 12.123,00. “Dois carros foram vendidos a vista, em torno de € 92.000. Os demais aproveitaram essa alternativa do parcelamento”.

O promotor explica que foi feito o depósito para 15 carros, todos eles já no Brasil. Os outros cinco, de um pacote máximo e sem possibilidade de ampliação de 20 chassis, estão sendo negociados com as equipes interessadas. A não utilização completa do pacote até agora, segundo o empresário, pode ser explicado de duas formas. “Com a crise, algumas equipes pararam sua negociações, outras ficaram receosas de entrar no primeiro momento”. Talvez não confiassem que o plano de recuperação saísse do papel.

MAS POR QUE A DALLARA E NÃO A MYGALE?

Os empresários das duas empresas estiveram no Brasil no ano passado. O pessoal da Dallara visitou a etapa de Brasília, enquanto os franceses da Mygale acompanharam a rodada de São Paulo. Em ambas, o procedimento do promotor foi o mesmo. “Coloquei os representantes das fábricas e os chefes de equipes numa sala para que pudessem conversar abertamente sobre os produtos. No final, nossos chefes de equipes decidiram pela Dallara e, então, fechei com a empresa”. Motta relembra que um dos argumentos em favor da Dallara, além de sua tradição e competitividade, foi o de já formar o piloto sul-americano no carro que ele iria encontrar quando fosse correr de Fórmula 3 na Europa, visto que o produto italiano é hegemônico nesses grids.

O promotor, que revela ter sido o preço da Mygale um pouco menor, hoje confessa que não está muito convencido da validade desse argumento apresentado. “Tenho dúvidas se o nosso piloto terá mesmo de repetir a Fórmula 3 quando sair do País. Com o que temos aqui, não acredito ser necessário. Ele pode optar por correr na Europa já numa categoria acima”.

UM SUL-AMERICANO COM CARA DE BRASIL

Embora a competição continue sendo denominada Sul-americana e com provas marcadas para Argentina e Uruguai, fato é que equipes e pilotos são 100% brasileiras. O único não brasileiro que parecia estar certo para correr, na Light, pela equipe Dragão Motorsport, o colombiano Francisco Diaz, enviou uma comunicação no início da semana para o engenheiro Luiz Trinci, o Dragão, abrindo mão do acordo. No momento da entrevista, Motta não estava totalmente informado se teria havido um problema de última especificamente em relação a Brasília ou se seria um abandono definitivo.

De todo modo, ele não considera a possibilidade de transformar a Fórmula 3 em um campeonato brasileiro, visto que o campeonato é da Confederação Automobilística Sul-americana (Codasur). Para ele, embora seja grande a retração na economia argentina, há contatos permanentes para que alguns dos cinco carros restantes estejam com essas equipes ainda nesta temporada. Ele alerta, porém, que não tem como dar subsídios ou vantagens para que os estrangeiros participem, como chegou a ser formalmente solicitado a ele. “Não seria lógico eu dar um subsídio para os estrangeiros se não dou para os brasileiros”, descartou o empresário.

Fala com entusiasmo das provas internacionais, ao mesmo tempo em que reclama que é muito difícil fazer automobilismo no Brasil por causa dos custos e da “total falta de apoio governamental”. Ao contrário do que muita gente pensa, para o promotor é muito mais barato correr na Argentina do que no Brasil. Além disso, para ele, há uma condição qualitativa que supera todas as outras: “Lá, corremos com público!”.

ÀS VEZES, TAMBÉM UMA ESPÉCIE DE ‘INTERVENTOR’

Fiel seguidor do lema “Transparência, sim; Democracia? Nunca!”, Dílson Motta prevê que o custo da temporada, para o promotor, será na casa dos R$ 2 milhões. Mas nada disso estaria valendo a pena se não houvesse o comprometimento das equipes e, nesse sentido, ele é só elogio às equipes envolvidas. Isso, entretanto, não impediu que ele tivesse que fazer uma espécie de intervenção em algumas negociações. Ele não se mete nos negócios da equipes, mas reconhece que nem todos perceberam, por assim dizer, o espírito da coisa.

Assim, precisou chamar alguns chefes de equipe para que ministrassem preços compatíveis com a realidade. O promotor revela que o custo da temporada na categoria principal está entre R$ 500 mil e R$ 650 mil, apesar de não poder afirmar, justamente por não ser essa a sua esfera, se eventualmente algum acordo foi fechado nessa faixa.

Enquanto foca todos os esforços para fazer, desta temporada, a primeira de um novo e duradouro período de sucesso para a categoria, ele também vislumbra os mercados europeu e norte-americano. Para tanto, tem a seu favor a questão custo. “Qualquer equipe na Europa vai cobrar em torno de € 500 mil, na prática, três vezes mais do que a nossa Fórmula 3, afirma Dílson Motta, levantando uma bandeira que, se não é suficiente alentadora para os sul-americanos, poderá gerar uma movimentação positiva além-mar e ampliar o grid com idiomas não-latinos.

A categoria começa com o apoio de Pirelli, Minoica, Sparco e Red Bull. As provas serão transmitidas ao vivo pela Band Sport, Speed Channel e Race TV. Esta última vai transmitir todas as provas por internet, inclusive os treinos, com narração de Edgard de Mello Filho, que de tão entusiasmado com a Fórmula 3 é capaz de tentar dar uma voltinha no novo carro. Ele não cabe no cockpit, nem com regime, mas vai tentar.

É o grande show da Fórmula 3 que nunca acaba. Às vezes, a luz ficou um pouco menos intensa, mas nunca apagou. Afinal, desde o seu início, em 1987, pelas mãos de Antonio de Souza Filho a Alan Magalhães, passando pela associação das equipes e Carlos Col, a categoria tem um lugar histórico e permanente na trajetória do automobilismo brasileiro. E uma categoria que reúne equipes como Cesário, Prop Car, Dragão, Bassan, Nasr (ausente nessa fase), entre outras, só pode dar nisso. Dílson Motta, o “maluco”, percebeu tudo isso. Sorte nossa!

Foto fornecida por Singular Comunicação

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