Adrian Newey, o gênio da Red Bull

Adrian Newey

Entrevista realizada e enviada por Media Red Bull

Fotos Getty Images/Red Bull Racing

Tradução: Hugo Rzepian Teixeira/Diário Motorsport

Adrian Newey, o gênio da Red Bull

Acompanhe na íntegra essa entrevista do projetista da Red Bull, Adrian Newey, o mago que é um dos grandes responsáveis pela dobradinha da equipe, no domingo passado, na China

Dois dias depois de nossa dobradinha na China, nós conversamos com o chefe técnico da Red Bull Racing, Adrian Newey, sobre a importância dessa vitória inédita. Adrian, já se passaram dois dias, qual é a sensação?

Adrian Newey – Acordar numa segunda-feira de manhã com uma dobradinha sempre te coloca um sorriso no rosto. O resultado representa um enorme aumento de confiança para todos da equipe por saber que nós conseguimos produzir carros que podem terminar em 1º e 2º lugares e fazer isso desde o começo, sem “herdar” o resultado porque outros tiveram problemas. É realmente uma grande recompensa pelo trabalho duro, não só de nossa parte, mas também pela Renault e por todos nossos parceiros técnicos.

De onde você assistiu a corrida?

Adrian Newey – Eu assisti da minha cozinha em casa, uma parte do tempo com minha esposa Marigold. Mas ela achou estressante demais assistir comigo e decidiu ir pra outra sala. Depois minha filha viu comigo. Após alguns minutos da vitória, nossos vizinhos vieram e, apesar do horário, fizemos uma pequena celebração. Teria sido legal estar na China, mas eu estou muito contente por todos, pois conseguimos o resultado que merecíamos.

Mark Webber;Adrian NeweyCom problemas técnicos no começo da semana, você ficou preocupado que os carros poderiam não cruzar a linha de chegada?

Adrian Newey – Nós estávamos confiantes que tínhamos consertado o que parecia ser um problema com algumas peças do eixo de transmissão. Mas você não pode considerar nada como garantido, por isso a última meia hora da corrida parecia não acabar nunca!

Como o RB5 evoluiu desde o começo da temporada?

Adrian Newey – Nós tivemos uma atualização aerodinâmica, com um novo difusor e asas dianteiras modificadas para o período final dos testes pré-Melbourne, o que trouxe um grande aumento na performance. Então, para a China, nós tivemos mais partes novas que trouxeram ainda mais performance. Nas qualificações com pista seca nós ficamos atrás das Brawns em Melbourne e na Malásia, mas muito perto na China, mesmo considerando a relação de quantidade de combustível/tempo por volta. O acerto dos carros estava muito parecido com o usado na Malásia, então o resto da performance pode ser apenas relacionada ao circuito, como se vê pela diferenças de tempo em décimos de segundo, ou como era entre a McLaren e Ferrari nos últimos anos.

O resultado na China veio sem um difusor duplo, essa peça é menos importante do que as pessoas acham?

Adrian Newey – Não há dúvida nenhuma que um difusor duplo oferece maior performance. Mas quanta performance depende em como você interpreta o regulamento e como você adapta a peça para o seu próprio carro, portanto algumas equipes vão tirar mais vantagem da peça do que as outras. Mas vale a pena o uso para todos no grid. Nosso desafio é adaptar um para funcionar bem no nosso carro.

Quando o RB5 irá aparecer com um difusor duplo?

Adrian Newey – Como já foi especulado, considerando o design do RB5, não é a tarefa mais fácil adaptá-lo ao carro e enquanto trabalhamos com esse item, precisamos também continuar trabalhando no desenvolvimento geral do carro, pra garantir que não fiquemos para trás em outras áreas. O único destaque dos carros da Red Bull é a suspensão traseira “pullrod”, que é uma boa solução quando não se tem um difusor duplo. Mas fazer com que ela funcione com o difusor será mais difícil. Não teremos um difusor duplo antes de Mônaco.

Olhando para as três primeiras corridas, o que te chamou a atenção?

Adrian Newey – A diferença mais óbvia é o quão diferente a ordem do grid está se comparada com às últimas temporadas. Grandes equipes como Ferrari, BMW e McLaren estão atualmente para trás, mas é claro que elas não ficarão lá. Eu acho que isso é refrescante e saudável para a Fórmula 1. Cria mais interesse, ver diferentes equipes e pilotos na frente.

Sebastian VettelSe esse fim de semana em Bahrein for completamente seco, podemos esperar ver os atuais líderes de volta para a frente?

Adrian Newey – É difícil dizer, já que vantagens específicas do circuito entram em jogo. Do nosso ponto de vista, nós realmente não sabemos ainda quais são as diferentes forças e fraquezas dos nossos carros comparadas aos dos nossos competidores em pistas específicas.

Você mencionou que as grandes equipes irão contra-atacar. Com seus grandes recursos você espera que eles passem voando por vocês?

Adrian Newey – Eu espero que não! Com uma grande mudança no regulamento como essa, é uma oportunidade para as equipes que tem menos recursos, mas que são inteligentes no modo em que pensam sobre as implicações do regulamento e como implementá-las, para aparecer com um design eficiente e um bom carro. Quando as mudanças estiverem estáveis por mais tempo, as equipes com mais recursos terão maior habilidade para considerar as opções e assim terem mais vantagens. E isso não é dizer que equipes pequenas não poderão manter suas vantagens, e regras para o futuro são direcionadas à restringir ainda mais o desenvolvimento para reduzir as “corridas queda-de-braço” que tem caracterizado as corridas de Fórmula 1 nos últimos anos.

Como essa vitória se compara com as outras vitórias importantes em sua carreira?

Adrian Newey – O primeiro ponto a se fazer é que essa não é nossa primeira vitória, a Red Bull Technology teve um carro vitorioso ano passado, operado muito bem pela Toro Rosso na vitória em Monza. Emocionalmente, para todos aqui em Milton Keynes, foi muito satisfatório. Eu já estava muito animado e feliz depois de Monza e essa na China foi especial porque conseguimos fazer uma dobradinha e quase a mesma coisa na qualificação. O outro ponto que faz com que essa vitória seja especial é que teve uma grande mudança no regulamento e nós mostramos que, como equipe, entendemos as regras, assim produzindo um carro que é bem adaptado à eles logo no começo. É extremamente satisfatório porque com as novas regras nós estivemos trabalhando por conta como um grupo por quase 9 meses realmente sem saber o que as outras equipes estavam fazendo, e sem saber como nosso carro poderia se comparar aos deles, já que todos os pontos de referência e as linhas de base mudaram.

Mas agora você precisa mudar o design do RB5 levando em consideração a decisão sobre os difusores feita em Paris. Você sente que é um pena ter de modificar o carro original?

Adrian Newey – Certamente vai dar muito trabalho! O desafio agora é tentar integrar o novo difusor com o resto do carro. Mas eu não acho que seja uma pena. Apenas vejo como um outro desafio. Infelizmente, vai precisar envolver algumas noites em claro! Isso é a Fórmula 1: você não pode se dar ao luxo de ficar sentindo pena de si mesmo sem fazer nada, você precisa aceitar e ir pra frente.

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