Biografia de Pedro Muffato será lançada no Capacete de Ouro

livroPor Américo Teixeira Junior – O jornalista Clovis Grelak tem vivido momentos de muita dedicação e correria, mas o resultado de tudo isso será apresentado no próximo dia 10, em São Paulo. Biógrafo do piloto e empresário Pedro Muffato, Grelak lançará o livro “Muffatão” durante a entrega do prêmio Capacete de Ouro, da Editora Motorpress Brasil, que edita a revista Racing.

Para chegar ao texto final da obra, foram diversas as entrevistas do jornalista com o protagonista e com pessoas muito próximas do atual piloto de Fórmula Truck, que aos 76 anos disputa a sua temporada de despedida no automobilismo justamente no ano em que completa 50 anos de carreira. E é o próprio Muffato quem estará no dia 10 autografando a biografia de 300 páginas, que estará sendo vendida no próprio local, com parte da renda revertida para obras assistenciais.

O livro mergulha  num “universo” do automobilismo brasileiro que é conhecido por poucos e relata o envolvimento de Pedro Muffato com as corridas de automóveis e também a sua capacidade empreendedora como construtor de carros de competição, além de revelar aspectos de sua atuação empresarial e política, esta última como prefeito de Cascavel, cidade na qual começou sua trajetória nos anos 60.

Trecho de “Muffatão”

Repleto de histórias saborosas, o livro escrito por Clovis Grelak sobre a vida de Pedro Muffato revela lances inimagináveis do nosso automobilismo, inclusive com expoentes do nosso esporte “versados” em latim. Veja aqui apenas uma amostra:

A saga do Muffatão (Parte 1)

Do ninho da cobra, o F-2 brasileiro

Depois da construção do Copersucar Fittipaldi para a Fórmula 1, na década de 1970, houve a construção de um carro brasileiro de Fórmula 2, o Muffatão/Passat. Evidente que numa escala de outra dimensão à qual não cabem comparações, o F-2 Muffatão/Passat foi, porém, importante ao automobilismo do Brasil nos anos 1980. O carro alavancou a F-2 Brasil e mais tarde a Fórmula 2 Codasur.

O marco dessa história começa no domingo 21 de abril de 1981, no então Autódromo Internacional de Brasília. Era aniversário da Capital Federal, que completava sua maioridade. Uma das atrações daquele domingo no Distrito Federal era a disputa da primeira etapa da recém-criada Fórmula 2 Brasil. Mas a festa era só para candango ver. O clima interno entre os pilotos e as equipes era de derrota.

Indignados com a Volkswagen que cortara abruptamente e sem aviso prévio o patrocínio da Fórmula 1.6 VW em janeiro daquele ano, alguns pilotos foram convocados pelo chefe de equipe Toninho de Souza para uma reunião.

Como tiveram que criar outra categoria às pressas a partir do cancelamento do patrocínio da Volkswagen no início daquele ano, o item mais urgente da nova categoria F-2 Brasil era ter um carro adequado. Participaram da reunião Pedro Muffato, Jan Balder, Antonio Castro Prado, os irmãos Anor e Leonel Friedrich, Alfredo Guaraná Menezes e Dárcio dos Santos, entre outros. 

 Toninho começou a conversa dando uma porrada na mesa, detonando o então carro que iam usar naquele fim de semana de estreia da F-2 Brasil, “que era arremedo da Fórmula VW 1.6”, “que precisavam de um Fórmula 2 moderno…”.

Só que esse lado da conversa já era discurso vencido. Não existia esse outro carro no Brasil. E na prática a burocracia e uma portaria do governo federal impediam de importá-lo. A reunião prometia ir a lugar nenhum. Mas foi. “Então vou construir esse carro no Brasil”, disse Pedro Muffato. Apesar de comentários que já circulavam nos bastidores sobre a ideia de Pedro, os participantes da reunião acharam em princípio que era brincadeira. Então Muffato completou que “ia construir em Cascavel”. Eles riram.

Para eles Pedro estava brincando mesmo. Só que não estava. Pedro continuou com a palavra. Virando-se, apontou para Jan Balder. “O Jan vai ser o consultor técnico, a logística de peças em São Paulo”. Os demais na sala prestaram atenção. A conversa estava começando ficar séria. Jan Balder, que é especialista em tudo que se refira a carros de corrida, olhou os demais, consentindo, concordando, estendendo a mão ao Pedro.

“Estou dentro”, decretou. Naquele momento não havia mais brincadeira. A coisa havia ficado séria. Todos na sala concordaram. Toninho de Souza, com seu jeito matreiro e resolvido, resolveu encerrar a reunião, passou uma mão sobre a outra no clássico gesto de término de conversa. “Fechô!”.

Dárcio dos Santos piloto e tio de Rubinho Barrichelo tinha uma dúvida que considerava importante. Toninho, impaciente, quis saber do Dárcio o que podia ser mais importante que o projeto do Pedro Muffato construir um carro de corrida moderno em Cascavel. “O problema do dinheiro…”, começou Dárcio.

Ora, ao ouvir “problema do dinheiro”, Toninho de Souza só não caiu da cadeira porque estava em pé. E deu uma dura em Dárcio. “Porra, que merda é essa, Cabeção? Num negócio em que o Pedro Muffato tá no nosso lado, você vem com esse papo de problema de dinheiro. Você tá brincando!”. Então Pedro Muffato realizou a mágica. “Eu banco o projeto”. Toninho encheu o peito de razão e piscou para Dárcio. “Tá vendo, Cabeção! Dinheiro é só um detalhe!”.

Dárcio deu um sorriso meio sem jeito pela observação que havia feito, desculpando-se com Toninho, por pensar, imagine, que o dinheiro seria um problema. Toninho lhe desculpou, imaginando que Dárcio não conhecia bem o Pedro Muffato.

Feliz com a reunião produtiva e para animar o clima no autódromo Toninho de Souza foi anunciar a boa nova à imprensa. Como intuiu que era solene para o momento, Toninho caprichou no latim:

“Bonum apporto nuntium, domine mi amice Petrus Muffato fabricabimus, Brazil, maxime huius generis F2 currus cum eo in urbe, in Cascavel ”. Claro que ninguém entendeu patavina. Toninho, então ….

Claro que continua essa história genial – e outras mais – no livro “Muffatão”, que poderá ser comprado a partir do dia 10 de novembro quando do lançamento no Capacete de Ouro, no Expo São Paulo, juntamente com o Salão do Automóvel, a partir das 18h00.

grelak-e-muffatoFoto de capa/destaque

Clovis Grelak (óculos) e Pedro Muffato na etapa da Truck, em Interlagos. Crédito: SILVIO SHIBUYA/Facebook Clovis Grelak

Leave A Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *