
Por Americo Teixeira Jr. – Muito embora se configure numa importante categoria de acesso e desempenhe atualmente papel de destaque no automobilismo brasileiro, a Copa Montana tem sobre si uma espada afiada, inclemente, prestes a marcar suas entranhas com outro golpe em razão dos inúmeros acidentes.
Pode parecer licença poética ou exagero típico dos dramalhões, mas não é novidade a atenção negativa que a “irmã” da Stock Car desperta não apenas nos observadores e em gente que milita fora das retas e curvas, mas também em profissionais lá de dentro, os de capacete e macacão. E não é de hoje.
Tempos atrás, ainda quando a categoria tinha outro nome, uma pesquisa deste Diário Motorsport, realizada entre pilotos (Relembre aqui) revelou preocupações que, de uma maneira ou de outra, estiveram presentes nas trágicas circuntâncias das mortes de Rafael Sperafico e Gustavo Sondermann
A Copa Montana é a síntese da confusa situação do atual momento do automobilismo brasileiro, que é uma espécie de criatura do Dr. Frankentein, formada aos pedaços e sem direção. O desnível entre os pilotos é brutal. Se ao mesmo tempo alguns experientes se fazem valer de suas fileiras por falta de um lugar na categoria principal, outros ascendem à Copa Montana sem o devido preparo.
Desse modo, o primeiro e grave problema é a falta de formação dos pilotos. Ao se deparar com um carro de alta performance e sem a correspondente vivência nessa prática, o que se vê são demonstrações claras de inabilidade. O carro da Copa Montana é potente demais para o nível de alguns dos pilotos que a categoria recebe. Os inúmeros acidentes provam isso.
Se há aqueles experimentados e talentosos, que se sentem confortáveis com toda essa cavalaria, outros não sabem o que fazer e cometem as maiores besteiras. A Copa Montana só vai deixar de ser perigosa se somar esforços que passam necessariamente por uma revisão técnico-regulamentar, além da seleção de seus pilotos. Basta montar uma comissão de notáveis e aplicar testes. Passou? “Seja bem-vindo”. Não passou; “Sorry”.
Não é responsabilidade da Vicar resolver o problema criado pela Confederação Brasileira de Automobilismo por não fomentar categorias de base. Mas é, sim, responsabilidade da empresa promotora aceitar pilotos sem formação em seu grid. A empresa tem mostrado competência em alguns aspectos, podendo somar mais um tento.
Para não ser conivente e partícipe em novas tragédias, será muito mais salutar a Vicar selecionar seus pilotos. Será preferível encarar o descontentamento de alguns do que se ver às voltas com outros funerais, como os de Rafael Sperafico e Gustavo Sondermann.
Exagerado? Talvez, mas quem avisa amigo é, já dizia o sábio.
Diga-se de passagem, Suzane Carvalho que escreveu um excelente manual para quem quer começar a correr no lugar certo, que é o kart.
Primeiro vamos aprender a pilotar o “fusquinha” e depois o “F1”.
Depois de velho, estou usando suas dicas no kart amador.
Abraços
Se fosse por isto, olha o número de acidentes que a Mini Challenge amarga.
Caro Américo
Parabéns por seu texto. Não é em nada exagerado.
Já passei grande perigo ao correr em categorias com outros pilotos despreparados.
O grande erro começa quando a CBA sequer exige que alguém curse uma escola de pilotagem para tirar uma carteira de piloto.
Se extende na exigência de demasiados ítens fúteis para homologação de uma escola, o que dificulta a existência de pilotos que tenham interesse em passar sua experiência adiante.
E termina no interesse financeiro: se tem dinheiro, corre. Se não tem, não corre.
Infelizmente esta é a realidade, e sou grandinha demais para continuar sonhando.
Só me resta ficar do lado de fora, torcendo para que ninguém se machuque.
O que dizer deste texto do Américo. Primeiramente que ele é muito bem escrito, como todos deste escriba o são. Segundo que acho que falar em mortes no automobilismo é chover no molhado. Não se morre no automobilismo por causa de falta de experiência, inclusive. Dan Wheldon e Marco Simoncelli eram pilotos prá lá de experientes, de talento inegável e corriam em categorias ‘top’ mundiais, em eventos ‘top’ de nível mundial com organização impecável. Mas morreram. O automobilismo é um esporte de risco, isso é ponto pacífico, assim como a asa delta, ciclismo de aventura e mergulho profundo com snorkel. Em todos eles os atletas desafiam o perigo, testam limites e flertam com a morte, por isso ganharem tão bem para fazer isso.
A CBA não é santa, não pode ser eximida de culpa, mas não deve caber apenas a ela o ônus das catástrofes. Claro que há pilotos inexperientes, afoitos e mal preparados na Montana e aí existe sim responsabilidade da CBA, que é quem emite a carteira e atesta as habilidades dos condutores – para não dizer a omissão total com a conservação dos autódromos. Esses condutores passam por escolas de pilotagem, que nunca são citadas em matéria nenhuma pós acidente. Seriam bem preparadas? O carro da Montana é sempre demonizado, mas há centenas de protótipos muito mais rápidos do que eles, em condições péssimas competindo por aí. Morre-se na F1, na Indy, na MotoGP, na GP3, morre-se em qualquer esporte de risco. Mágoas e ressentimentos políticos não deveriam se misturar a análises desses sinistros, pois são exatamente essas análises que forçam o esporte a ficar melhor, mais seguro, menos trágico. A análise útil – na minha ótica – é aquela que aponta soluções, dá sugestões e se transforma em atitudes práticas. Não vi nenhuma sugestão em sua análise amigo, desculpe a franqueza, vi apenas mais uma alfinetada na atual gestão da CBA e um prosaico aviso de que a próxima morte foi antecipada aqui.
Temos comissão para tudo, autódromos, terra, kart, e até recordes, mas a CBA é omissa em todos os níveis, seus representantes parecem estar mais interessados em exercer o poder pelo poder, do que fazer algo pelo esporte que morre à míngua diante de todos nós, sustentados por altas taxas pagas pela F1, WTCC e campeonatos brasileiros.
Dei – humildemente – uma ideia para mudar o quadro, que, na minha opinião seria uma saída para o automobilismo voltar a crescer, motivar pequenos construtores e dar empregos a toda uma cadeia que foi colocada de lado pelo atual modelo, que privilegia poucos e seletos fornecedores (mesmo modelo que acabou com o kart). A ideia era disputar regionais de fórmulas e protótipos, todos com o mesmo regulamento, de baixo custo e com apenas alguns componentes padronizados para conter os preços. Chassis seriam livres, desde que atendessem a critérios técnicos de segurança e homologação. Lembra-se da antiga Fórmula Ford com seus Binos, Reynard/JQ, Muffatão, Heve, Roundeau, Buguinho e outros construídos em oficinas? Pois é, seria a volta dos construtores e os pilotos teriam mais oportunidade de participar da construção e do acerto, aprendendo sobre mecânica e dinâmica, coisa que não mais acontece. Regionais de baixo custo e viagens curtas e um festival no fim do ano reunindo todo mundo para ver quem seria o melhor do Brasil numa grande festa. O que acham da ideia? Pois bem, levei-a à CBA, avisando que eu já tinha fornecedor de pneus, motores e câmbios subsidiados e que estava a fim de novamente voltar a ser promotor nessa empreitada. Sabem qual foi a resposta? “Você é um sonhador, isso nunca vai dar certo, esqueça”. Desde então me afastei do automobilismo e não tenho mais vontade de voltar. É assim que as coisas funcionam. Regionais não dão status, não passam na TV, não rendem mordomias, então, é mais fácil descartar. Portanto amigo Américo, os acidentes na Montana são tão previsíveis quanto os da Truck, Stock, Mini, regionais ou rally, eles podem acontecer a qualquer momento, até com o Kubica, é coisa desse esporte. Portanto, se vamos nos dedicar ao assunto, pensemos em sugestões práticas e úteis, deixando de lado o indefectível: “eu avisei”. Ah, só para terminar, essa minha proposta foi feita e eu recebi a citada resposta na gestão Paulo Scaglione, que para mim foi a mesmíssima coisa do que vem acontecendo depois da gestão Piero Gancia, na minha opinião, o último verdadeiro esportista que dirigiu a Confederação.
Obrigado, Alan, por seu comentário tão detalhado. Só que, ao contrário do que você escreveu, meu texto se baseia na identificação do problema e na sugestão de uma solução. Foi o que fiz, talvez não com a clareza necessária (vide a não percepção, por você, de algo que para mim pareceu tão claro).
Abraço!
Dá-lhe Mériquinho. Sabe tudo e deixou o aviso. O problema é que os ouvidos andam selados. Um abraço, meu amigo.
Novamente você foi no ponto Américo.
Comentei a última etapa da Copa Montana pelo Speed e fiquei assustado com o que vi, especialmente um acidente forte, uma capotagem, em plena BANDEIRA AMARELA e com Safety Car na pista.
Sem contar as “decisões” da direção de prova, que não puniu o piloto que provocou esse acidente e desclassificou o líder da corrida, na última volta, por usar mais de uma linha de defesa de posição.
Infelizmente, muita coisa está errada mesmo na categoria. Uma pena
Concordo plenamente, agora o que não entra na minha cabeça é o motivo da fusão (ANTIGA COPA VICAR E PICK-UP RACING), a Pick-up era uma espécie de escola base para se entrar na Copa Vicar(ANTIGA STOCK LIGHT) com pilotos “menos experientes” com cavalaria menor, cambio H, enfim, agora gostaria que me explicassem, tinham uma media de 34 a 38 carros na VICAR e em média 20 Pick-up´s, somando quase 60 carros, hoje não temos na MONTANA um grid superior a 23 carros, vide corrida de Brasilia….Seria jogo de interesses da VICAR mais uma vez?? Será que estão tentando acabar com a Montana para promover o BRASILEIRO DE MARCAS? Resumindo estao se lixando pra categoria e para a segurança..NORMAL SE TRATANDO DE VICAR….ENQUANTO O DINHEIRO FOR PRIORIDADE PARA ELES QUE SE DANEM OS PILOTOS!!!! VERGONHOSO!!!
Parabéns pelo texto!!!
Será que a Vicar tem interesse em “selecionar” os pilotos e diminuir o grid?
Quanto custa uma inscrição? Receita de menos é prejuízo no bolso.
Abraços
belo texto américo! assino embaixo.