Receita simples para Cleyton Pinteiro reconstruir a credibilidade da CBA e sua própria razão de existir

Tempo de reconstruir .... (Foto DUDA BAIRROS/STOCK CAR)

Por Américo Teixeira Jr. – A gestão do presidente Cleyton Pinteiro, na Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), tem se destacado por algumas ocorrências que denunciam incapacidade na condução de suas atribuições. A entidade tem como responsabilidade o gerenciamento técnico-desportivo do automobilismo brasileiro. Esse é o trabalho principal que a CBA tem para executar, pois foi para isso que ela foi criada e é para obter esse respaldo, sem o qual o esporte poderia se transformar numa “terra de ninguém”, que os pilotos a ela se filiam.

Mas como aquele restaurante italiano que não consegue servir uma “Pasta al Dente” e não tem vergonha de recepcionar a clientela com uma Sardella à base de sardinha em lata, a CBA não está dando conta de fazer o seu principal. E tanto isso é verdade que está abalando as bases do automobilismo nacional, transformando numa verdadeira “bola de neve” de desconfiança e descrédito quase tudo o que se relacione à CBA.

Para estancar essa “nuvem negra” que paira sobre a entidade máxima do automobilismo brasileiro, o presidente Cleyton Pinteiro, pessoa inteligente que é, precisa tomar algumas providências urgentes. Passam, fundamentalmente, pela autoridade em assumir decisões de amplo alcance, sem medo de perder voto ou de desagradar eventuais parceiros. E ter a humildade de reverter ações motivadas unicamente pela miopia da política rasteira ou resgatar, pelo menos, sua essência.

Essa nossa receita é formada pelos seguintes itens:

1 – Ouvir para mudar

A primeira providência é a de se reunir com todos os promotores e ouvir suas preocupações. Reunir também alguns dos principais pilotos brasileiros, donos de equipes que militam há anos, patrocinadores realmente parceiros do esporte e, eventualmente, membros da imprensa. São setores que, hoje, fazem mais pela construção do esporte do que a própria CBA, que em muitos casos só faz atrapalhar e desmotivar.

Essa conversa tem de ser entre o presidente e quem faz o automobilismo acontecer. Tem de ser uma conversa sem intermediários, olho no olho, dos envolvidos com o presidente, e ninguém mais. Quando se perde a mão da coisa, como a CBA perdeu, tem de deixar o orgulho de lado e ouvir quem está no “mesmo barco”.

2 – Mudar políticas, procedimento e, se preciso, pessoas

A segunda providência é substituir pessoas, a começar pelo próprio presidente da CBA se ele não se sentir capaz o bastante para encarar suas responsabilidades. Getúlio Vargas se matou, Janio Quadros renunciou, Fernando Collor de Mello foi impedido de continuar no poder. Então, se presidente da República se desobriga de suas responsabilidades, o mesmo pode se aplicar a uma entidade técnico-desportiva.

Porém, se Cleyton Pinteiro se considera sujeito do processo, capaz de comandar uma gestão plural e moderna, em condições de promover mudanças profundas, que fique e honre o cargo. E, hoje, honrar seu cargo e os 50 anos da CBA é também fazer substituições de políticas e procedimentos. E também de pessoas que não se adptarem aos novos enunciados.

3 – Humildade

O presidente Cleyton Pinteiro precisa resgatar, pelo menos em filosofia, o Centro para Formação de Oficiais de Competição, criado pelo ex-presidente Paulo Scaglione e pelo ex-diretor de marketing Antonio de Souza Filho, que funcionava nas instalações do Autódromo Municipal José Carlos Pace. O organismo, que funcionou entre 2008 e início de 2009, tinha potencial para formar não apenas oficiais de competição no Brasil, mas também da América do Sul. Tanto que essa internacionalização do CEOC, que era chamado de “universidade do automobilismo”, estava encaminhada e, inclusive, com possibilidades de receber verba da FIA Fundaction.

Pinteiro acabou com o CEOC sem explicações, reflexo claro da miopia política. Feio, sim, mas é do jogo político. O que não é do jogo político, porém, é permitir que o poder do cargo que ocupa se esvazie porque não foi competente o bastante para impedir que perdesse importância. É isso o que acontece hoje na CBA. O cargo de presidente da CBA está perdendo importância porque a entidade está se desvalorizando ao deixar de fazer o que dela se espera. Então, Pinteiro precisa assumir-se humilde e recolocar o CEOC no trilhos. Se isso for demais, basta copiar o que funcionava, dar um toque pessoal, mudar o nome e lançar como novo. Não é assim que o mundo gira? Então, basta seguir a onda.

4 – Trabalhar!

Mas, atenção, eficiência não se obtém com apadrinhamento político e muito menos usando o poder como instrumento de rancor e vingança. Planejamento e método nasce das cabeças pensantes e comprometidas com o esporte, não apenas com suas causas particulares. Por fim, excelência se dá a partir de trabalho.

Parece receita óbvia, tão conhecida de todos como fazer um café pela manhã. Mas, às vezes, o óbvio se perde na bagunça das atitudes. Então, vale lembrar e torcer para que, pelo menos em seu sentido construtivo, essas sugestões entrem em pauta. Porém, se nada disso estiver em pauta na CBA, nem essas e nem outras que mudem o quadro atual de descrédito, a entidade pode fechar, pois não fará falta alguma.

11 Comments

  1. Alan Magalhães 27 de agosto de 2011 at 11:47

    Pena que cheguei tarde a este excelente e oportuno texto. Mas a sensação que tenho hoje, que também criei categorias, as conduzi e promovi em meus 29 anos de atuação exclusiva no automobilismo – do qual estou quase totalmente afastado – é a seguinte: A CBA é nossa Amy Whinehouse. Gostamos dela, queremos que ela vá bem, torcemos e até damos conselho a ela, mas infelizmente ela insiste em se autoboicotar e chegará a hora que nem uma Rehab vai resolver.

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  2. Fabricio 9 de julho de 2011 at 0:06

    Américo, você foi preciso como um cirurgião. Excelente texto! Mas falta humildade a CBA. Falta humildade aos dirigentes brasileiros. A soberba os tornam cegos. O automobilismo brasileiro está abandonado. O principal autódromo do país (Interlagos) está abandonado. Dá dó!! Só um golpe popular salva o automobilismo brasileiro.

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  3. LUCARO 6 de julho de 2011 at 15:14

    Também concordo que já passou da hora de mudar. Mudar o que nunca deveria ter acontecido para não chegar a este ponto.

    Concordo que o presidente da CBA não deveria ser oriundo de uma FAU mas sim alguém diretamente envolvido com o automobilismo e apolítico.

    Concordo que deveríamos ter como candidatos nada menos que pilotos que passariam a ser ex-pilotos, podendo até mesmo ser o Edu Homem de Melo, Flávio Gomes, Bird Clemente, Emerson Fittipaldi e poucos.

    Só não concordo que retorne alguém do passado.

    Belo texto, parabéns.

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  4. Maicon 6 de julho de 2011 at 13:03

    Não precisa nem dizer mais nada…já tá aí o Homem (literaLmente, kkkk…)!!!!!…EDUARDO HOMEM DE MELLO para Presidente da CBA…JÁ!!!!!!!!!!!!

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  5. Eduardo Homem de Mello 6 de julho de 2011 at 11:25

    Americo
    Poucas vezes vi algo tão bem escrito como o texto acima. Texto de uma precisão absurda que aborda temas absurdos com muita classe e totalmente isenta de rancores ou revanchismo.
    Com toda certeza a CBA tornou-se uma nau sem rumo, desgovernada e infelizmente nas mãos de quem não tem o menor comprometimento com o esporte.
    Me julgo no direito de opinar porque como você bem sabe, vivo, respiro, como, sonho com automobilismo 365 dias no ano e dele eu vivo honestamente comentando, competindo, organizando, promovendo categorias sem jamais extorquir os principais artistas, os pilotos, e sim dar a eles condição de realizar sonhos de infância na pilotagem sem que para isso sejam explorados e atirados a própria sorte nas pistas.
    Todas as categorias que montei, visei sempre proporcionar aos pilotos algo de fácil acesso, valores justos, carros competitivos e extremamente seguros, transmissão televisiva, além de equilíbrio entre as forças dos motores, visando ressaltar a habilidade em detrimento do poder financeiro que tantas categorias enterrou.
    A um valor justo, coloquei 53 Corsas, 43 Pick-ups, mais de 120 karts (categoria senior)nas pistas e assim as disputas ocorriam naturalmente e invariavelmente entre 6 a 8 carros pela ponta da corrida.
    Fórmula mágica?não, claro que não, apenas trabalho, muito trabalho, seriedade, honestidade e principalmente credibilidade, credibilidade conquistada por quem atua ativamente no esporte ha mais de 40 anos e sempre desenvolvendo os carros e categorias paralelamente aos órgãos que regem o esporte, pois só assim a coisa aconteceu.
    Neste seu texto impecável, quero deixar claro que concordo integralmente com tudo que vc escreveu e ainda acrescentaria que promotores ainda temem os desmandos de uma Confederação fracassada e que ainda usa o poder político para impor sanções aos que não rezam na cartilha do désposta oriundo do RS.

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  6. Olha la 4 de julho de 2011 at 22:38

    Américo dá uma olhada nesses 2 videos e repare a incompetencia da equipe de resgate e do medical car:

    http://www.youtube.com/watch?v=q_8q9Mug8qI&NR=1

    http://www.youtube.com/watch?v=pAh3UghLPSA&feature=related

    Repare que parado junto ao carro de Resgate tem um caminhão Pipa COM 20 MIL LITROS DE AGUA para combate a icendio, a questão é pq não usaram??? INCOMPETENCIA.

    Repare tambem o medical car foi parar la no carro queimando enquanto o piloto estava la no chão , na grama, ai o medical car volta de ré até o piloto. Será que a pessoa que comanda la de cima na torre nao viu que o piloto ja tinha saido para informar ao medico??? cade o comando???? MAIS INCOMPETECIA…

    É MUITO TRISTE!!

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  7. Cláudio Reis via Facebook 4 de julho de 2011 at 14:55

    Ameriquinho, vou arrumar um FAU “amiga” e lançar minha candidatura como “Cacareco for President”… hehehe

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  8. André Almeida Ribeiro via Facebook 4 de julho de 2011 at 14:54

    Saudades do Dr. Paulo, do Gancia, entre outros, esse babaca junto com o Valduga só preocupam-se em perseguir a Cronomap, Speed Fever entre outros com anos de experiência e capacidade em eventos automobilísticos.

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  9. Jorge Kraucher, via Facebook 4 de julho de 2011 at 11:08

    Pouco após assumir a presidência da CBA o até então “famoso quem” Cleyton Pinteiro deixou claro que daria à entidade nacional a mesma importância que tem no cenário nacional a Federação que presidira por três mandatos, ou seja, que converteria “sua nova casa” em algo tão inexpressivo quanto a Federação Pernambucana de Automobilismo.

    Mais grave que isso, apostando no “quanto pior, melhor”, Pinteiro saiu chutando as bundas de gente que mais que o dinheiro estava envolvida com o automobilismo por paixão, por realmente querer “ver a coisa acontecer”, substituindo estas pessoas por puxa-sacos de plantão que pouco entendem dele, ou vêem no esporte apenas a oportunidade de arrecadar uma grana.

    Cumprida sua “meta inicial” de transformar a CBA numa nau sem rumo, Cleyton ainda partiu para uma segunda empreitada, que foi a “importantíssima” eleição como vice-presidente da também pouco expressiva Confederação Sul-Americana de Automobilismo, a CODASUR, escolha essa que parece ter sido feita como alternativa para a saída da CBA do Conselho Mundial da FIA, ocorrida por pura falta de credibilidade da entidade maior do automobilismo no planeta no gestor de sua representação em solo nacional. Já sem rumo, a CBA passou a ter ainda menos norte, sendo transformada numa verdadeira “casa de mãe Joana”, onde se faz o que, e quando quer, especialmente no que tange a regulamentos, que são mudados constantemente por pura falta de alguém que o impeça (leia-se, de uma AUTORIDADE.

    E assim, aquele em outros tempos chamado “Automobilismo Tupiniquim”, vai ganhando força para perder o mínimo que ainda tem de credibilidade, o que em última análise causa desemprego de muita gente de valor que orbita as pistas, enfraquecendo-se num ritmo assustador. O Automobilismo Brasileiro não merece um possível segundo mandato da dupla Pinteiro-Nestor Valduga. Salvem-no dessa tragédia enquanto é tempo.

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  10. Kaká Ambrósio 4 de julho de 2011 at 10:52

    Caramba!!! Quando eu crescer quero saber escrever assim.
    Ah! Um recado: Cleiton, meu amigo, siga essa receita antes que seja tarde. Trabalhador eu sei que você é. Agora é avaliar as questões expostas e buscar um Novo Caminho, já que os Tempos mudaram.

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  11. Gerson 3 de julho de 2011 at 19:15

    Americo, muito bom seu texto, pena que a CBA, representada pelo seu presidente e toda sua diretoria estejam inertes ao que esta’ acontecendo no automobilismo brasileiro.
    Esta semana ao ligar para a CBA para confirmar uma noticia divulgada pelo proprio site da CBA, a resposta foi de total desconhecimento de todos os 5 atendentes que tentaram me atender.
    A segunda etapa da Copa das Federacoes de Endurance esta’ postada no calendario da CBA como sendo 500Km de Brasilia, e uma noticia da CBA divulga que a prova foi transferida para Sta Cruz do Sul (muito facil para as equipes mudarem assim).. porem nem na CBA nem na Fed Gaucha, ninguem sabe de nada.
    A melhor informacao recebida foi de que ate’ quarta-feira havera’ uma decisao… e se a prova for mesmo no dia 9.. Qual equipe conseguira’ estar presente ???

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