Por Americo Teixeira Jr. – Fotos LAT USA/Grand-Am – É possível que Oswaldo Negri Jr., ainda sob o efeito da emoção pela vitória na prova 24 Horas de Daytona, no domingo que passou, tenha se surpreendido cantarolado uma música interpretada por Josh Groban, um cantor norte-americano que é um talento maravilhoso. Na sua voz, “Don’t Give Up (Não Desista)” deixou de ser uma simples canção para se transformar num hino. “Não desista, é só o peso do mundo quando o seu coração pesa … Não desista, é só o machucado que você esconde quando está perdido por dentro … Não desista se você quer brilhar, se a escuridão te cega…“.
Quem conhece um pouco de Ozz, como é chamado nos Estados Unidos, sabe que esse cidadão paulistano de 47 anos deve ter tido momentos – afinal, é feito de carne e osso como eu, você e todos nós – em que a frase don’t give up passou por sua mente acompanhada de um belo sinal de interrogação. Mas se seu rosto não apresenta as marcas de uma carreira sofrida é porque tratou de dar um “chega pra lá” na interrogação e cravou fundo, alicerçado no talento e obstinação, o sinal de exclamação. O sorriso sempre fácil e a forma gentil de tratar as pessoas, provavelmente, também sejam modos de retratar a satisfação pessoal de não ter desistido.
Pela Michael Shank Racing e ao lado de A.J. Allmendinger, John Pew e Justin Wilson, vencer a 24 Horas de Daytona foi o
ponto alto de uma carreira que começou lá no século passado, em 1973, quando foi andar de kart aos nove anos. De 1987 a 1996, houve todo um esforço para se firmar no automobilismo europeu, mas ele também foi obrigado a mudar de rumo e passou a correr nos Estados Unidos, em definitivo, em 1997. Até a estreia na Grand-Am, em 2003, fez de tudo para se manter como um profissional do automobilismo. Instrutor, desenvolvedor de novos carros de corrida e de rua, acertador de monopotos e por aí vai. E sempre correndo onde fosse possível e como fosse possível.
Realmente, valeu a pena não desistir e com essa cara de menino e espírito mais jovem ainda, Oswaldo Negri Jr. tem muito a conquistar ainda, por merecimento e talento, enquanto pratica um robby meio fora de moda nos últimos tempos, que é ajudar as pessoas. Aposto que tem um monte de gente com passagens interessantes de como foi ajudada por Negri. Em seu livro, “O Caminho da Vitória”, Helio Castroneves relembra uma dessas passagens quando fala de seu teste para ingressar na Indy Lights, em 1996, numa ocasião em que estava com dores nas costelas:
“Fiz amizade com outro piloto brasileiro, Oswaldo Negri. Tínhamos muitas coisas em comum e ficamos amigos imediatamente. Trocamos figurinhas sobre nossas experiências nas pistas na Inglaterra. Ele contou histórias ótimas e eu lhe disse que deveria escrever um livro. Quando ele percebeu que eu estava tendo problemas, falou:
— Eu vou dar uma força a você. Vamos a um massagista.
— Puxa! Que cara legal! — pensei.
Normalmente, quando se participa de um teste, não se faz amizade com os outros concorrentes, quanto mais ajudá‑los. Oswaldo e eu seguimos pelas ruas do centro da cidade, pedindo informações durante o trajeto. Ele falava inglês um pouco melhor do que eu, pois correra na Fórmula 3 por vários anos. Phoenix era diferente de todas as cidades brasileiras e eu estava impressionado por ter de procurar um lugar bem no meio do deserto. Quando encontramos o massagista, …“.
É por essas e outras que Oswaldo Negri Jr. é um referencial, dentro e fora das pistas, e deixou, no domingo, muito marmanjo com lágrimas nos olhos. E com a participação de Felipe Nasr, estreando na prova em 3º, e Christian Fittipaldi, outro brasileiro que já venceu (fato também conquistado por Raul Boesel), chegando em 5º, foi mesmo um dia memorável para esses valentes do automobilismo.

Cresci com a imagem deste grande homem pela sua alegria, determinação e força, tive oportunidade de estar em algumas corridas e foram inesqueciveis. Nesta corrida de domingo então, realmente presenciei um marmanjo chorando de alegria quando me vi refletido na janela ao lado. Ainda brilha nos olhos a felicidade conquistada com esta vitória em cada reportagem que encontro.
Nem eu, Mae dele, nao conseguiria fazer um Rx tao perfeito de Osvaldo Negri Jr.
Me emocionei muito e agradeco suas palavras.
O Negri é exatamente isso que o brilhante texto do Américo contou. Lembro-me bem de seu início nos carros, eu e ele fazendo propostas de patrocínio na casa dele, tentando verba para ele correr na Fórmula Ford brasileira. Fui de pastinha em baixo do braço a várias empresas, nos esforçamos muito para conseguirmos lograr algum sucesso, e mesmo não conseguindo, o Oswaldo Negri mantinha-se alegre, sorriso no rosto e confiante em novas investidas. Isso me ensinou muito. Depois nos cruzamos na F3 sul-americana, onde ele teve um título merecido literalmente roubado através de manobras que conspiravam contra a Equipe Daccar que defendia. Pouca gente sabe ou se lembra disso, mas eu até acabei sofrendo represálias por mostrar a verdade em matéria publicada na Revista Autoesporte. Negri é um batalhador, merece tudo de bom que a vida lhe reserva. Assisti a largada das 24 Horas, algumas horas e a hora final ao vivo no Canal Speed e me vi torcendo muito pela vitória que acabou se consolidando. Parabéns meu amigo, apesar da distância e de não nos falarmos muito nos últimos anos, saiba que a admiração e a torcida continuam as mesmas daqueles tempos das propostas de patrocínio datilografadas.