O destino do automobilismo brasileiro está nas mãos de apenas 20 pessoas; saiba quem são elas

Por Americo Teixeira Jr. (Coluna publicada originalmente na edição 32 da revista Warm-Up) – A Confederação Brasileira de Automobilismo já entrou em clima eleitoral, visto a conclusão do primeiro mandado do presidente Cleyton Pinteiro estar se aproximando. Esse período tem seu término marcado para o dia 15 de março de 2013 e, visando o cumprimento dos ditames estatutários, há todo um protocolo a ser seguido que pode resultar em disputa direta pelo cargo ou mesmo a ocorrência da chamada “chapa única”.

Independentemente de haver um confronto renhido ou ação protocolar, fato é que os “atores” da eleição serão apenas algumas pessoas, todas credenciadas pela presidência das federações estatuais que representam e formam a Confederação. São exatamente 20 pessoas em cujas mãos estão os destinos do automobilismo brasileiro, pois a legislação desportiva brasileira outorga a elas a responsabilidade do voto e da eleição do presidente da CBA.

É importante dizer que esse formato eleitoral não é invenção da entidade máxima do automobilismo brasileiro. Em nosso país, sob o amparo da Lei do Desporto Federal ou mais popularmente conhecida como Lei Pelé, toda confederação tem como eleitores os presidentes de federações, que por sua vez são eleitos pelos dirigentes dos clubes, aqueles mesmos onde os competidores vão fazer suas carteiras anuais.

Em nome de milhares

 Toda essa estrutura existe em razão do competidor do automobilismo, mas justamente esse principal interessado passa ao largo de todo o processo eleitoral. De acordo com a atual legislação, as cerca de 100 mil pessoas que vivem do automobilismo brasileiro, direta ou indiretamente, são representadas por essas 20 pessoas. Elas são, ao lado da diretoria eleita, responsáveis pelo sucesso ou insucesso do esporte, razão pela qual devem ser igualmente elogiadas ou criticadas, não apenas o ocupante da cadeira presidencial.

Mas o que fazer se o piloto filiado não manda nada nessa história toda e muito menos vota? O único caminho que a lei atual oferece é o de se fazer ouvir pelo respectivo presidente de federação. Nesse sentido, o quadro nesta coluna mostra, um a um, quem são os responsáveis pela pessoa que ocupará o cargo de presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo a partir do próximo ano.

No quesito voto, todas as federações têm o mesmo peso. Isso significa que um estado com autódromos, kartódromos, parque industrial instalado e histórico na formação de pilotos, na eleição para presidente da CBA, vale exatamente a mesma coisa de outro sem nada disso e com diminuta carteira de pilotos filiados. Longe de ter sido concebida por alguma atitude altruística para motivar estados com pouca representação no cenário brasileiro do automobilismo, a mudança estatutária, que deu origem a esse quadro atual, teve motivação eleitoral.

Tudo dentro do estatuto

O estatuto que norteou os dois mandatos do ex-presidente Paulo Scaglione, de janeiro de 2001 a março de 2009, estabelecia diferenciação de Zero a Cinco no voto de cada Federação. A entidade estadual, para ter o peso maior, precisava realizar eventos nas cinco modalidades existentes (automobilismo, kartismo, rali, velocidade na terra e arrancada) e ter número de filiados compatível com os campeonatos regionais em disputa, além da condição legal de seus clubes formadores.

Entretanto, a disputa eleitoral que se formou ao final de 2008, envolvendo os grupos de Paulo Scaglione e Cleyton Pinteiro, deu cabo dessa norma, que foi modificada às vésperas da eleição. O quadro que se vislumbrava em dezembro de 2008 era o de um grupo numericamente maior de federações ao lado do então vice-presidente Cleyton Pinteiro. Já Scaglione, embora com um menor número de federações ao seu lado, somava votos suficientes para tentar a reeleição em função do peso qualitativo.

O fisiologismo, que é a marca de algumas federações, fazia a vantagem pender cada hora para um lado, o que fazia supor uma disputa voto a voto das mais emocionantes no pleito de janeiro de 2013. Mas essa perspectiva de disputa foi jogada por água abaixo quando o grupo de apoio de Pinteiro fez uso de uma prerrogativa estatutária e mudou a regra do jogo. Segundo o estatuto vigente à época, o voto qualitativo só existia na Assembléia Eletiva. Fora dessa circunstância específica, o peso era igualitário.

Isso permitiu que a oposição a Scaglione convocasse uma assembléia extraordinária para dezembro de 2008 e, na ocasião, mudasse o estatuto com a eliminação do voto qualitativo. A medida tinha como objetivo garantir a vitória de Cleyton Pinteiro e foi coroada de êxito, visto que, em protesto contra a mudança de regras, Scaglione não registrou sua chapa de reeleição e seu adversário pôde ser aclamado em chapa única no mês seguinte.

Salvo algum contragolpe, o voto igualitário será a regra para a eleição de janeiro de 2013, o que faz do Nordeste brasileiro a locomotiva do poder no automobilismo nacional. A região Norte reúne apenas dois votos, a Sul, três. Sudeste e Centro-Oeste, quatro cada. Já o Nordeste dispõe do maior peso político representado por sete votos.

Como ser candidato?

Esse processo representativo resulta, obviamente, na formação de grupos alinhados pelos mesmos propósitos e interesses, o que é absolutamente normal. Ocorre que, quanto mais sólidos os blocos, mais se perpetuam no poder. Há, porém, alternativas para a criação de novas frentes políticas e de oposição, previstas pelo próprio estatuto. Na prática, qualquer pessoa pode se candidatar ao cargo de presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo, mas não basta chegar lá na Rua da Glória e dizer na secretaria: “Sou candidato!”.

Está rezado no estatuto que qualquer nova candidatura precisa ser apresentada por 20% das federações com direito a voto. Partindo-se do pressuposto que todas as 20 estão em ordem com os quesitos da Assembléia Eletiva, uma nova candidatura para ser legitimada precisaria da chancela de cinco federações. Chancelar não significa voto garantido, mas pelo menos o reconhecimento de que aquele novo grupo se mostra em condições de disputar a eleição.

Esse processo é, de fato, um limador de novas candidaturas, pois eventuais adversários podem ser eliminados antes mesmo da inscrição. Quanto maior a divisão internada do mandato em curso, melhores são as chances de haver uma chapa de oposição plenamente em condições de buscar votos. Só que, estimulada pela legislação do desporto, o corporativismo funciona como um cimento a tapar as fissuras enquanto o processo eleitoral não termina.

É uma visão praticada em diversas esferas da sociedade, não apenas a esportiva. Enquanto essas 20 federações se digladiam entre si, sem interferência de grupos externos, é bastante plausível imaginar a manutenção de um poder giratório entre as partes. Isso não necessariamente aconteceria se fosse rompida a capa protetora e, por conseguinte, houvesse a entrada de oposição não ao Grupo A ou B, mas ao sistema todo.

“Então, caro colunista, está dizendo que não há o que fazer?”, poderia estar perguntando o leitor que teve a paciência de ler até aqui. A resposta é: “Sim, há muito o que fazer!”, começando por analisar, sob o prisma do profissional do automobilismo e “engrenagem” importante desse esporte, se o atual momento do automobilismo brasileiro é satisfatório. Se sim, o papel é o de assegurar que seu presidente de federação vote na continuidade. Se não, o “caminho” das pedras foi dado nessas linhas.

Os eleitores do presidente da CBA

Jefferson Cavalcante Magalhães – Presidente da Federação Alagoana de Automobilismo (FAA)

Selma Morais Santana Moura – Presidente da Federação de Automobilismo da Bahia (FAB)

José Haroldo Borges Scipião – Presidente da Federação Cearense de Automobilismo (FCA)

Giovanni Guerra – Presidente da Federação de Automobilismo do Estado do Maranhão (FAEM)

Fernando Maia – Presidente da Federação Paraense de Automobilismo (FEPAUTO)

Odilon Maroja Coutinho – Presidente da Federação de Automobilismo do Estado da Paraíba (FAEP)

Waldner Bernardo de Oliveira – Presidente da Federação Pernambucana de Automobilismo (FPEA)

Francisco Sesimar Lopes Correia – Presidente da Federação Potiguar de Automobilismo (FPA)

José Roberto Mellara – Presidente da Federação Sergipana de Automobilismo (FSA)

Napoleão Augusto Ribeiro – Presidente da Federação de Automobilismo do Distrito Federal (FADF)

Valdemir Dias Terra – Presidente da Federação de Automobilismo do Mato Grosso do Sul (FAMS)

Zilmar Sirtoli – Presidente da Federação Matogrossense de Automobilismo (FEMTAU)

José Ney Lins Rocha – Presidente da Federação Goiana de Automobilismo (FAUGO)

Robson Duarte – Presidente da Federação de Automobilismo do Estado do Espírito Santo (FAEES)

Pedro Sereno de Mattos – Presidente da Federação Mineira de Automobilismo (FMA)

Djalma Faria Neves – Presidente da Federação de Automobilismo do Estado do Rio de Janeiro (FAERJ)

Rubens Carpinelli – Presidente da Federação de Automobilismo de São Paulo (FASP)

Rubens Gatti – Presidente da Federação Paranaense de Automobilismo (FPRA)

Carlos Rodrigues de Deus – Presidente da Federação Gaúcha de Automobilismo

Almir Petris – Presidente da Federação de Automobilismo do Estado de Santa Catarina (FAUESC)

7 Comments

  1. angela maria piergentili 3 de agosto de 2017 at 7:46

    Como votar se aqui no Rio de Janeiro acabaram com o kartodromo e o autodromo nem mais corrida o carioca tem fui uma pessoa que trabalhei em corridas na epoca do Mello do Miraly ou mais conhecido como Miguel do RIO MOTOR e por causa de uma olimpiadas e um Pan acabou prometeram que iriam fazer outros e nada querem da um terreno que me parece não ter condições de construirem nada.Fico triste pelo Rio

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  2. Ricardo 18 de agosto de 2013 at 23:53

    Dos 20 votos, pelo menos 6 não têm peso algum, pois são federações que nem ao menos organizam provas de kart ou até mesmo de arrancada.

    Mas voto no Brasil, seja no legislativo, executivo ou mesmo fora do âmbito político, não importa a qualidade e consciência, e sim a quantidade, pois assim fica mais fácil manipular a administrar mediante interesses particulares.

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  3. Carlos Inácio 17 de janeiro de 2013 at 9:09

    Sou Gaúcho e afirmo, não temos a mínima condição de presidir tal confederação. No Sul a desorganização impera. Não há respeito ao público.
    Construíram o Velopark! Bela )*@$&*)@$, pista com 2km não é autodromo, é kartódromo. Muito dinheiro se foi ali.

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  4. jegmar batista 4 de janeiro de 2013 at 18:10

    Como pode federação tipo a do RN q tem um presidente q falta todas as reuniões q marca e não tem compromisso com o esporte votar com com o mesmo poder de uma Fau do sul.

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  5. Débora Soares 26 de dezembro de 2012 at 13:27

    Amigos o automobilismo atualmente é fomentado por pessoas que acham que comandar as categorias dos esportes À motor do Brasil tem a mesma facilidade de ir ali na esquina e comprar pneus para seu automóvel de passeio. Aliás, muitos deles só sabem o que é carro por isso. É triste saber que não há engajamento!

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  6. LUIZÃO 23 de dezembro de 2012 at 11:16

    Não sou gaúcho mas por merecimento e dedicação ao esporte o título deveria ficar com o Rio Grande do Sul.

    É fácil de entender: É só ver a quantidade de autódromos, quantidade de provas, tamanho dos grid’s, valor dos treinos, valor das inscrições, respeito ao público e assim vai…

    A CBA necessita de gente experiente e de respeito ao esporte. O atual e o anterior deixaram e deixam muito a desejar.

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  7. Robério Lessa 19 de dezembro de 2012 at 23:47

    Caro Américo.
    Lendo seu artigo, muito bom por sinal, me detive ao parágrafo abaixo:

    “Salvo algum contragolpe, o voto igualitário será a regra para a eleição de janeiro de 2013, o que faz do Nordeste brasileiro a locomotiva do poder no automobilismo nacional. A região Norte reúne apenas dois votos, a Sul, três. Sudeste e Centro-Oeste, quatro cada. Já o Nordeste dispõe do maior peso político representado por sete votos”.

    A questão matemático-política dá ao Nordeste um poder decisório maior que outras regiões, no entanto, se os dirigentes nordestinos votassem de acordo com a atenção da CBA para a região as coisas poderiam ser diferentes.

    Com apenas dois autódromos (Caruaru – PE e Eusébio – CE), a CBA poderia, pelo menos “ajudar” essas duas praças a receber competições nacionais.

    Não fora a Truck em Caruaru e a Stock Car, que prefere andar no circuito de rua da Bahia, ao Nordeste apenas as competições fora de estrada chegam com mais força.

    De algum modo, o Nordeste merecia maior atenção das categorias nacionais e a CBA poderia fazer mais por isso.

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