Aventura olímpica coloca novamente em risco o automobilismo do Rio

jacarepagua_stock2009_ff_3931806117_0792b5f91b_oA escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 é mais um passo na reafirmação do Brasil no cenário olímpico mundial, como já ocorrera em 2007 com os Jogos Panamericanos. Distantes em época e no alcance geográfico, os dois eventos têm em comum um lado nefasto, o do risco à prática do automobilismo no Rio de Janeiro. No primeiro evento, mesmo com construções de módulos esportivos em pleno Autódromo Internacional Nelson Piquet, em Jacarepaguá, a praça esportiva conseguiu resistir graças a luta da gestão Paulo Scaglione, na CBA. Agora, tudo precisa ser refeito. Não para manter o circuito, impossível diante dos compromissos assumidos, mas para garantir outra praça esportiva no Estado. É uma derrota para o automobilismo, o fim de uma era. Mas nem sempre foi assim.

Coube a Scaglione, que chamou para si a responsabilidade de garantir a prática do esporte e a defesa do patrimônio histórico de Jacarepaguá, impedir a destruição da praça esportiva já em 2003, quando a gestão do ex-prefeito César Maia iniciava os trabalhos para os Jogos Panamericanos. Logicamente que o resultado não foi um autódromo dos sonhos, posto o que havia antes, mas a prática do automobilismo só existe hoje no Rio de Janeiro por ação direta da CBA, sob o presidência de Paulo Scaglione.

Até a assinatura do acordo judicial para a recuperação do circuito depois do Pan, que a gestão César Maia foi obrigada a assinar pelo fato de a questão ter sido levada à Justiça pela CBA e coroada de êxito, foram quase cinco anos de ações diretas. Na primeira delas, ainda em 2003, o então presidente da CBA constatou total indiferença se Carlos Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que alegou não ter nenhuma responsabilidade sobre a escolha dos locais.

Seguiram-se diversos encontros com autoridades municipais, lideranças políticas e membros do consórcio vitorioso para as obras em Jacarepaguá. Embora a ação junto aos membros do Legislativo Municipal tenha resultado em efeito prático positivo, sendo introduzida na Lei Municipal a “obrigatoriedade de ser mantida a prática do automobilismo”, não houve outro caminho que não o da Justiça.

Passada a celebração do Pan e chegada a hora do cumprimento da acordo judicial, coube ao Ministério do Esporte, na figura de seu titular Orlando Silva Jr., entrar em cena. Já vivendo o sonho olímpico em escala mundial, o ministro consultou o então presidente Paulo Scaglione sobre a seguinte questão: “A CBA aceitaria discutir a construção de um novo autódromo no Rio?”. A resposta foi positiva, mas qualquer mudança de atitude da CBA só aconteceria com a entrega das chaves de um novo autódromo. Postura idêntica foi defendida pelo atual presidente, Cleyton Pinteiro.

No projeto apresentado para o Comitê Olímpico Internacional, hoje vitorioso, o autódromo desaparece. Quer dizer, “morreu” hoje, mas até ser “enterrado” vai levar muito tempo. Dessa forma, o que se discute agora é a preservação do automobilismo no estado do Rio de Janeiro, não mais a defesa do patrimônio, atropelada pela máquina governamental em prol dos Jogos Olímpicos. De um lado, o sonho olímpico. De outro, toda uma comunidade lutando para ter um autódromo, sendo encabeçada pela CBA e Federação de Automobilismo do Estado do Rio de Janeiro (FAERJ). A entidade nacional tem de garantir que o esporte não morra no Rio. Já a estadual precisa brigar com todas as forças para ter um novo autódromo. Definitivamente, essa história não acabou, desde que haja vontade política e disposição para a luta.

Foto dos boxes de Jacarepaguá, em recente etapa da Stock Car (Foto Fernanda Freixosa/AgênciaWE)

3 Comments

  1. João 3 de outubro de 2009 at 20:52

    Deixando claro que Volta Redonda ou Valença cidades para o autodromo regional.

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  2. João 3 de outubro de 2009 at 20:51

    Infelizmente Jacarepaguá já morreu. Precisamos hj no rio de 2 autódromos, um do nível de Jacarepaguá pra cima e outro de nível suficiente para competições regionais, desde já sugiro a cidade de volta redonda ou valença, sendo que Volta Redonda já possui um belo kartodromo e Valença uma grande rede hoteleira em Conservatória.

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  3. Alan Magalhães 3 de outubro de 2009 at 20:47

    Não foi apenas o automobilismo carioca que perdeu, mas o brasileiro e, exagerando um pouco, o mundial, pois corridas de Fórmula 1, Indy e MotoGP tinham uma atmosfera única em Jacarepaguá. Os mais antigos lembrarão dos divertidos testes de pneus que a F1 fazia lá, no inverno europeu. O traçado original era fantástico e a cidade atendia com perfeição às comitivas internacionais.
    A cantina Tarantella, uma das pioneiras na Barra , recebia pilotos, engenheiros e dirigentes da F1 e era lá que eu jantava todos os dias em todas as provas de F1 em que trabalhei, pois sempre rendia uma conversa interessante, um depoimento, uma exclusiva, fácil de ser extraída depois de alguns copos da sensacional sangria que eles serviam lá. Procurei-a na prova de Stock Car e não a achei mais, será que ainda existe em outro endereço? Quem souber, que me ajude aí.
    Caro Américo, se me permite contrariar, na minha singela opinião, acho que a gestão Scaglione foi no mínimo inocente com relação ao autódromo do Rio. Confiar num acordo feito com Cesar Maia, é o mesmo que colocar a cabeça na guilhotina, acreditando na promessa de que o carrasco não vai acioná-la. Se tivessem endurecido e não topado nenhuma negociação até que os termos do novo autódromo estivessem legalmente formalizados, teríamos a garantia de sua construção prévia. Acreditar que depois daquela retaliação que acabou com o miolo norte poderia-se reconstruir um circuito decente, foi no mínimo infantil, a prova está aí, Jacarepaguá é um charco infestado de mosquitos e mato de 2 metros de altura.
    Lembro-me de pressões enormes feitas pelo consórcio do Pan liderado por Peter Van Vader e espero que elas não tenham surtido efeito, pois hoje o que temos são duas certezas: Não teremos mais autódromo em Jacarepaguá em curto espaço de tempo e não temos garantia nenhuma da construção do novo autódromo em Deodoro,. Cobrar de quem? Eduardo Paes? Ele vai dizer que não sabe desse acordo e não tem nada a ver com isso. Cesar Maia? Só rindo, e é o que ele deve estar fazendo ao ler essas notícias, pois sua estratégia, apesar de simplória, colou!
    Uma pena para os cariocas, brasileiros e gringos, que adoravam a sangria do Tarantella.

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