31.07.1977: O dia em que odiei Lito Cavalcanti

Por Americo Teixeira Jr. – O mundo estava literalmente explodindo em julho de 1977. Mas eu, moleque de 15 anos, só tinha essas coisas na cabeça: ser jornalista de automobilismo, acompanhar a Fórmula 1 e torcer total e absolutamente para a equipe Copersucar-Fittipaldi e por seu piloto, o bicampeão Emerson Fittipaldi. Eu não tinha a menor ideia sobre a ditadura no Brasil, do conflito na Palestina, das ações do então presidente Jimmy Carter (USA), da tragédia que se abatia sobre o povo africano. Nada, nada, nada. Meu mundinho – idiota, diga-se de passagem – girava em torno do Mundial. Para mim, Emerson era um ídolo, perfeito, inatingível, absolutamente sujeito a elogios e nunca a críticas. “Como criticar um deus?”, devia pensar com a minha cabecinha de “ostra”.

Mas eis que o Mundial de Fórmula 1 foi até a Alemanha e, correndo em Hockenheim, na classificação disputada no sábado, 30 de julho de 1977, uma “tragédia” aconteceu. Enquanto o sul-africano Jody Scheckter conquistava a pole com o Wolf Ford WR1 e a primeira fila era completada pelo irlandês John Watson, com Brabham Alfa BT45B, Emerson Fittipaldi se arrastava com o F5 e não conseguia se classificar para o grid. Dos 31 inscritos, seis não foram capazes de assinalar tempo mínimo e “foram para casa mais cedo”. Além de Emerson, ficaram com esse gosto amargo na boca alguns pilotos que a nova geração, provavelmente, nunca ouviu falar: Patrick Neve, Emillio de Villota, Hans Heyer, Arturo Merzario e Teddy Pilette.

Claro que eu considerei aquilo um acidente de percurso sem precedentes, algo inimaginável. Alguma explicação lógica justificaria tamanha “tragédia”. Eis que vou à banca de jornais na manhã de domingo e, com a Folha de S. Paulo nas mãos, não acreditei quando li o artigo de um “tal” de Lito Cavalcanti criticando o meu ídolo de então de forma tão contundente. Na minha cabecinha (quero reafirmar que era de “ostra”), aquilo era um absurdo sem tamanho. Então, naquele domingo, 31 de julho de 1977, todo o ódio que pode existir no coração de um moleque iludido de 15 anos foi direcionado para Lito Cavalcanti.

Passou um certo tempo até que eu esquecesse essa bobagem de ídolos, compreendesse que Emerson Fittipaldi não era deus, que a equipe Copersucar-Fittipaldi não tinha a importância que eu dava, que a Fórmula 1 não era o centro do mundo. E também levou um certo tempo para que eu conhecesse Lito Cavalcanti e aquele ódio absoluto se transformasse em respeito profundo pelo profissional, admiração enorme pela pessoa, paixão eterna pelo amigo. Mas que eu o odiei naquele dia, de forma intensa, não tenha dúvidas que sim (Clique na imagem abaixo e veja o motivo de “tanto ódio”).

 

 

2 Comments

  1. Alan Magalhaes 1 de novembro de 2011 at 17:19

    Sensacional. Na verdade sensacionais, os dois textos, o do Américo, perfeito. Uma crônica deliciosa que nos faz viajar junto (ah se ele se dedicasse apenas a esse talento nato e não desse tanta atenção a reminiscências políticas) na história, onde a maioria de nós, contemporâneos, nos encaixamos. E o Lito, com aquela sua virulência característica – hoje ele é mais Litinho paz e amor – mas no fundo objetivo, verdadeiro e jornalístico, como a ocasião pedia. Parabéns aos dois, que tenho o enorme orgulho de chamar de amigos.

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    1. Americo Teixeira Jr. 5 de novembro de 2011 at 19:23

      Grande Alan,

      Obrigado pelas palavras. Tentatei seguir seus sábios conselhos!

      Abração!!!

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