quinta-feira, abril 18, 2024

Djalma Fogaça: “Na Fórmula Truck, vivi todas as fases e ganhei muito dinheiro, mas perdi tudo lá e fiquei até o fim” – Parte 5/5

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Na quinta e última parte do papo com Djalma Fogaça, ele conta os bastidores de sua saída da Stock Car, conta um pouco sobre a personalidade de Aurélio Batista Félix e revela o sonho mais íntimo

Por Américo Teixeira Junior – Fotos do Arquivo Pessoal do Piloto

Na própria pele, a imensa paixão pela família que construiu ao lado da esposa Fabiana

Aquilo que parecia o fim de uma carreira, com os problemas econômicos e de impulsividade que resultaram na sua saída da Stock Car, ao final da bem-sucedida temporada de 1996, na verdade se tornou o pontapé inicial da virada de grande dimensão.

A trajetória nas pistas ganhou outros ares, entrando de cabeça nas corridas de caminhões. Na categoria de Aurélio Batista Félix, Fogaça viveu todas as fases da Fórmula Truck e, agora, traça um futuro muito promissor para a Copa Truck, seu novo desafio.

A questão da impulsividade, entretanto, sempre marcou a sua vida e o carismático piloto fala disso abertamente e abre o coração para falar de Wladimir Fogaça, seu pai, seu grande herói.

Independentemente dos resultados em pista, Djalma Fogaça é um dos expoentes da Copa Truck (Foto Rodrigo Ruiz/Copa Truck)

Diário Motorsport – Qual a origem disso que você próprio chama de inconsequência?

Djalma Fogaça – Eu sempre fui muito impulsivo. Até hoje eu pago o preço por isso. Não tenho um minuto de paciência. Se você pegar as corridas e os títulos que eu ganhei, eu deveria ter vencido pelo menos quatro vezes mais títulos e dez vezes mais corridas, tudo por não controlar meus impulsos, minhas atitudes. Eu acho que só fui me acalmar – não totalmente, mas uma boa parte – depois dos 50 anos de idade.

DM – Você foi uma criança mimada?

Djalma Fogaça – Não, pelo contrário. Eu acho que isso mistura com a própria história do meu pai [Wladimir Fogaça, de importância fundamental na carreira e na vida do piloto, faleceu no dia 14 de julho de 2002, de infarto fulminante, quando se divertia numa pista de kart indoor em Cascavel, Paraná]. Ele nunca foi um cara rico. A família dele sempre foi rica em terras, ali na região de Itapeva. Todos têm terra, terra arrendada, plantação de soja, fazenda de gado. Todos estão muito bem. E meu pai sempre foi o revoltado dos filhos porque ele queria ser caminhoneiro. O meu avô deu um caminhão e ele saiu para o mundo, nunca quis saber de viver às custas do pai. Por isso que eu digo que a nossa história se mistura muito. Eu, com 14 anos, já guiava caminhão, com 10 eu viajava na cabine do meu pai. Eu nunca fui assim estudado, eu gostava de viajar com o meu pai. E as coisas aconteceram muito rápido para ele. De dono de um caminho até se tornar um grande empresário se passaram três anos. Aí tem uma passagem que entra o Tony Kanaan na história. Meu pai conheceu o pai do Tony, o Antoine [Antoine Rizkallah Kanaan era empresário no setor de transporte e faleceu em 1988, vítima de câncer, quando o filho piloto tinha apenas 13 anos], quando tinha dois caminhões na Rápido Paulista. Eles se conheceram numa feira de caminhões, o pai do Tony era diretor da empresa e ofereceu um negócio melhor para o meu pai. Com isso, meu pai comprou mais quatro caminhões e botou os seis lá. Essa Rápido Paulista era a principal empresa de transportes do país na época.

Seu Wladimir e um dos mais de 200 caminhões que sua empresa, a Rodogafer, teve em seu melhor momento; ele queria que o filho se envolvesse no negócio, mas Djalma preferiu viver do automobilismo

DM – Com seis caminhões próprios, seu Wladimir prestava serviço para a empresa onde o seu Antoine era diretor, certo?

Djalma Fogaça – Isso. Só que um tempo depois o pai do Tony foi contratado pela Kwikasair, aqueles caminhões roxo e laranja. Entrou como diretor e um ano depois já era presidente. E aí chamou meu pai, que era assim como eu sou, impulsivo em tudo. De cara ele precisava comprar 40 caminhões e topou a parada. Foi lá, conseguiu o financiamento, comprou os 40 caminhões e colocou na Kwikasair, mas aí a época já era outra do transporte. Então, ele tinha um contrato de 10 viagens. Se fizesse menos, recebia as 10. Se fizesse mais, recebia as 10 mais as extras acima disso. Então, com o tempo meu pai tinha 200 caminhões, mais de 400 funcionários, umas 300 carretas. Eu era um menino pobre. Com 13 anos, eu morava na Vila Santana, de classe média baixa, eu cavava para ter a minha grana. Na época o meu pai viajava, eu engraxava sapato na praça, limpava túmulos – limpei túmulo pra caramba; ninguém sabe dessa minha história. Fazia isso porque eu queria ter a minha grana. Eu era um moleque da rua, não de rua, e tudo isso me deu muita vivência. E logo, com 14, 15 anos, meu pai falou: “Vai lá na Rápido Paulista trabalhar nos caminhões. Os motoristas chegam de viagem, vão para o dormitório e não tenho quem faça isso. Preciso de você lá”. Eu guiava os Mercedes 1519, que era um negócio difícil de engatar pra caramba. Se você não fizesse no tempo certo, tinha de começar tudo de novo. Eu fiquei uns dois, três anos dormindo no aposento da Rápido Paulista com os motoristas, no fim de semana voltava para Sorocaba com meu pai e aprendi a guiar lá. Eu andava sem carta, sem nada, naquelas marginais em São Paulo. Ia levar caminhão no borracheiro, no eletricista, colocava para arrumar, trocava óleo, abastecia, todas essas coisas eu fazia. E aí meu pai rapidamente ficou rico, né, cara. Então, aquele moleque que estava lá trabalhando junto com os motoristas, vim para cá e rapidamente virei playboy, isso de um ano para o outro.

Djalma Fogaça: “Fiquei louco quando vi o kart e andava com ele na capota do meu Fusca para todo mundo ver que eu era piloto de kart”

Fui correr de kart. Eu lembro que quando vi um kart pela primeira fez eu fiquei louco, foi paixão a primeira vista. Com uma semana eu já tinha o meu e andava com o kart encima do carro para as pessoas verem que eu era piloto de kart.

Nisso eu tinha 18 para 19 anos e comecei a correr. Foi uma mudança na minha adolescência muito rápida. Em 1980 em tinha um Fusca Zero, não tinha nem carta. Eu chegava na concessionária, montava no carro e dizia: “Vou levar, depois meu pai passa aí para pagar”. Aí meu pai passava lá e pagava, entendeu? Foi uma fase da vida só com corrida, viagem e festa. Playboy. Só isso, a minha vida era isso. Mulherada pra caramba, depois veio casamento, uma vida muito tumultuada e quando eu comecei a encarar de maneira profissional, que foi em 1988, eu comecei a ganhar dinheiro com a Texaco Petrópolis. Tinha um valor que tinha de pagar lá e eu pagava. Metade era patrocínio da equipe e a outra metade eu levava, mas o patrocínio que eu tinha dava para pagar o ano inteiro, sem Texaco. Ganhei muito dinheiro naquela época.

Campeão Brasileiro de Fórmula Chevrolet em 1988, Djalma começou a ganhar dinheiro como piloto na categoria de monopostos da General Motors

DM – Você já tinha dinheiro e ganhou dinheiro…

Djalma Fogaça – Ganhei dinheiro. Foi naquela época eu decidi que queria viver de corrida e já não aceitava mais dinheiro do meu pai. Muita gente falava que eu corrida com a grana dele. Não, eu corria com a minha grana. Voltando, minha vida teve uma fase de quando eu nasci até os 10 anos, dos 10 aos 20 foi outra fase, de 20 a 30 foi outra fase. E aí eu passei muita dificuldade como piloto e como equipe depois que eu resolvi sair da Stock.

DM – Antes de você falar dessa saída da Stock – a gente vai voltar nela -, queria voltar a falar do seu pai. Ele parecia uma pessoa muito humilde e a ligação entre vocês parecia muito forte. Então, quando você fala que não queria o dinheiro dele, soa como uma ruptura, mas quem via vocês nas pistas não percebia assim. Como foi isso?

Djalma Fogaça – Meu pai era super trabalhador, era um cara incansável. Ele era muito bom de coração, sempre foi um cara muito bom e nunca teve inimigos. Era muito dado com as pessoas, como eu sou também. Depois, lá na frente, ele pagou muito caro por isso, como eu também venho pagando. A minha história se assemelha muito à dele com coisas diferentes, mas é muito parecida. E nessa fase em que ele começou a ter muita grana, eu comecei a corres escondido do meu pai. Ele não saiba, não podia saber. Eu pensava: “Se meu pai souber, ele vai me matar”. Meu pai me dava as coisas, mas nesse negócio de ele sair de caminhoneiro para virar um empresário de caminhão, na cabeça dele, ele queria que eu vivesse tudo o que ele não pode dar antes para mim, para minha mãe, para minha irmã. Então, ele dava tudo pra gente. Esse foi o grande erro dele porque a minha irmã era uma princesa e eu era um playboy. O que eu deveria ter feito? Eu deveria ter continuado na firma trabalhando. Não, fui correr de carro. Quando ele descobriu e eu consegui levá-lo para uma corrida, o mundo dele mudou. Eu comecei a apresentar o mundo do automobilismo para o meu pai. Então, o automobilismo mudou a vida dele.

Meu pai sempre foi um cara muito especial para as pessoas porque não foi aquele pai chato. Não foi como esses pais que dizem: “meu filho é o melhor, meu filho é o novo Ayrton Senna”. Nunca. Ele ficava em todos os boxes, enchendo o saco de todo mundo, tinha amizade com todos os pilotos, todos os mecânicos, todos os preparadores. Cumprimentava todo mundo, era um cara muito carismático, gostava de presentear as pessoas. Ele tinha muita grana e gostava de presentear. Ia lá pra fora e voltava com malas cheia de “porcariadas” para dar de presente. Era realmente um cara muito, mas muito especial mesmo.

E o automobilismo aproximou muito a gente. Gostava de ir comigo nas corridas, a gente dormia no mesmo quarto… Quando eu passei a não aceitar o dinheiro do meu pai porque eu tinha o meu, eu passei inúmeras dificuldades. Por exemplo: Quando eu fui suspenso, o Fábio tinha acabado de nascer e eu rapidamente estava duro porque não podia correr. Ele insistia: “Djalma, vai lá para a empresa, eu preciso de você”. “Pai, eu não vou, eu escolhi o automobilismo e vou viver disso. Se eu tiver de esfregar o cu na guia até sair sangue, eu vou esfregar, mas eu vou assim”. Depois eu tive outras dificuldades porque, no automobilismo, quem ganha dinheiro é o organizador. Hoje tem muito piloto que ganha grana, mas se você for ver é gente que também tem uma história, que tinha uma família de grana, entendeu? Viver de automobilismo é difícil no mundo todo, a não ser que esteja nas categorias Top, mas pensar em ganhar dinheiro com o automobilismo é um erro e esse foi um erro que eu cometi. Quando ele deu o passo errado na empresa dele, que foi querer crescer demais, os negócios dele começaram a ir para baixo. O transporte tomou, assim, um volume absurdo. A Kwikasair foi referência para muita gente. Você veja o Urubatan, que tem uma empresa fantástica, talvez a maior do Brasil. O Urubatan era jovem, ligado em tudo e o que a Kwikasair fazia, ele também fazia. Um baita de um empresário, puta visão, visão que o meu pai não teve. Chegou uma hora que faltou [receita na empresa] e ele … botou parente pra caramba dentro, ele não recusava dar um emprego para alguém que fosse lá procurando, foi enchendo a empresa de pessoas que com certeza não estavam capacitadas. E a empresa, do mesmo jeito que cresceu, caiu. Quando a empresa dele começou a cair foi o momento que eu decidi seguir sozinho.

Então, financeiramente, a minha vida no automobilismo sempre foi uma gangorra, mas eu nunca fui rico. o automobilismo dá essa visão para quem está de fora. Eu aguento bronca até hoje por causa disso porque eu era sócio da empresa do meu pai. Quando fechou a empresa, foram milhares de ações trabalhistas e eu respondo até hoje. Eu nunca participei da empresa. Meu pai morreu por causa da empresa, teve um infarto fulminante, o que ele ganhou com caminhão, perdeu tudo. Ele foi embora e os problemas ficaram.

Essa é uma realidade e eu pago por isso até hoje. É até um conselho que vou deixar aqui para pais, que é não envolver os filhos em algum negócio. O filho, com 17 ou 18 anos, não sabe o que faz. Eu venho sofrendo com isso tem bastante tempo, mas até nisso eu puxei a ele. Meu pai nunca reclamou de nada. O prazer da vida dele eram os caminhões, o kart indoor e as corridas. E ele morreu encima de um kart. Morreu feliz, ia fazer 62 anos. Era um touro de forte. E eu não reclamo de nada. Eu acho que hoje sou assim um cara do marketing, vejo piloto fazendo coisas hoje que eu já fazia 10 anos atrás. Tenho um cartão de débito, bandeira Visa no meu nome, o Monster Card; quem foi bater na porta de um cara para fazer pela primeira vez a miniatura de caminhões fui eu.

DM – Desculpe a pergunta, mas baseado nisso tudo que você falou, seu pai foi uma benção ou alguém que não deu a criação que você precisava?

Djalma Fogaça – Não, meu pai foi uma benção! Hoje a gente tem muita dificuldade e é quando você vê o lado ruim das coisas. Eu sou o contrário, cara, só vejo as coisas boas porque … hoje, por exemplo, os meus filhos não tem o nome em absolutamente nada. Ele levam a vida que eles fazem, o que eles querem e você só vai lá e aconselha. O mundo mudou e a maneira de criar também. Então o meu pai, nessa transição de ser um cara simples para um cara de sucesso, pegou a fase da adolescência dos filhos e ele não tinha medida para nada.

DM – Ele quis dar para os filhos o que ele não teve …

Djalma Fogaça –  Exatamente. Então, sinceramente, meu pai para mim é o meu herói… [faz-se uma longa e emocionada pausa] depois que ele morreu, foram dois anos para eu largar do meu pai [diz com a voz embargada e lágrimas nos olhos]. Dois anos, cara, dois anos. Naquela época aí que eu fazia questão de andar sozinho, viajava só de carro, não ia de avião para as corridas. Eu botava a foto dele no painel e ia falando com ele o caminho todo. Ia no cemitério direto. Ia lá e passava a tarde sentado no túmulo dele. Aí um dia, ligou o Jindra Kraucker [Ex-piloto de Fórmula Ford e irmão do jornalista Jorge Kraucher]: “Fogaça, você vai estar aí amanhã?”. Era uma sexta-feira. “Eu vou”. “Cara, preciso trocar uma ideia com você, não sou nem eu, é a Rosana”.

Aí no sábado ele vieram para cá. A Rosana é espírita e ela me falou do espiritismo, tudo, e virou para mim: “Fogaça, você tem de largar seu pai. Ele está vagando por aí, não consegue ir embora”. E ninguém sabia que eu andava com uma foto na carteira, que eu chorava por causa dele, que ia para o cemitério, que passava a tarde inteira lá. Ninguém sabia disso e tudo isso ela falou. Foi a Rosana, esposa do Jindra, que me levou a largar meu pai, mas foram dois anos.

Então, eu tenho um relacionamento com meu pai, assim, absurdo. O que eu sinto hoje é ele não ter durado mais 10 anos, ver o Fabinho nas corridas. Ele só viveu a fase de me ver duro, não viu a fase de eu ter ganhado, de eu ter conseguido fazer as coisas no que eu escolhi viver. Se há uma frustração que eu tenho na vida, a única, é não ter vivido mais com meu pai numa fase boa minha, conquistada com as minhas coisas, entendeu?

DM – Tenho certeza de que ele viu tudo isso de uma outra dimensão.

Djalma Fogaça – De uma outra dimensão, com certeza. Qual era a outra pergunta que ficou para trás, antes de eu falar do meu pai?

DM – Por que você saiu da Stock Car?

Djalma Fogaça – Foi um problema de de patrocínio da categoria que acabou sobrando para mim. Naquela época, com três anos já de Omega, era uma categoria de elite. Os caras de Fórmula já olhavam para a Stock. Eu estava no terceiro ano e era um dos caras fortes da categoria. Tinha um patrocínio forte, com um carro que ficou marcado até hoje, preto com a marca AXE, desodorantes.

O emblemático Omega Chevrolet #72 de Djalma Fogaça na temporada de 1996 da Stock Car

Essa é uma passagem legal de contar de quando eu entrei na AXE, para você ver a dimensão do dinheiro. Em 1994, estreei na Stock pela equipe do Jorge Freitas, que também era estreante. Eu tinha patrocínio da STP, da TNT Brasil, da Gatão Veículos, que era uma concessionária do Rio de Janeiro, do Fábio Alves, e tinha também um patrocínio da Lapônia, concessionária Volvo. Tive um grande ano e não fui campeão da Stock por três voltas. Estava ganhando o título quando o meu motor quebrou.

No ano seguinte eu fui andar numa outra equipe, do Jayme Silva. Por ter feito um grande ano em 1994, veio a AXE atrás de mim, Gessy Lever. Eu estava negociando o patrocínio da Lapônia. Eu ganhava R$ 5 mil e queria R$ 10 mil, mas eles não queriam dobrar. Eu lembro que foi um dia antes do carnaval. Eu ia até viajar para Santa Catarina no outro dia. Aí toca o celular – aqueles grandes ainda, lembra? – era o cara da AXE. “Vimos o seu ano, temos interesse em patrocinar, vamos ter uma cota no evento e queríamos marcar uma reunião com você”. “Beleza, tenho um espaço que não foi fechado”. Marcamos para depois do carnaval, me passou o endereço e no dia fui lá.

O espaço era esse que eu queria R$ 10 mil. “Quer saber, vou chutar o pau da barraca”, pensei. Na reunião, eles já sabiam o que queriam, mostrei o espaço: “Quanto vai custar isso?”. Falei: “Vai custa R$ 80 mil”. “R$ 80 mil? Tá fechado”. Pensei: “Nossa Senhora, não acredito. Se eu tivesse pedido R$ 200 mil, estava fechado”. Aquilo me ensinou um pouco o que é trabalhar com uma empresa do porte da Gessy Lever.

Nós tivemos outro grande ano também em 1995, a AXE passou a ser o patrocinador principal em 1996, ano em que fui para a equipe do Andreas Mattheis, que estava começando. Com esse carro preto vencemos três corridas no ano. Venceu o Ingo, o 2º foi o Xandy e o 3º fui eu. Fui na decisão até o final. E aí, para 1997, eu já tinha renovado com o Andreas.

Quando eu peguei o Andreas, ninguém queria ele. Isso eu faço questão de falar e nunca falei também. Nunca falei, nunca falei. O Andreas tinha a equipe dele, num carro problemático que não deu certo. O projeto ele fez copiando a estrutura do DTM – ele foi correr de Stock, um carro prata, 72. Aí o Andreas parou de ser piloto e não conseguia emplacar porque o carro dele não andava. No final de 1995, eu saí do Jayme Silva – o carro era meu – e levei o carro para o Andreas nas duas últimas etapas. E aí o Andreas me apresentou o projeto para 1996, eu acreditei e banquei esse projeto para ele. O Andreas estava vivendo uma grande dificuldade naquela época e hoje eu posso falar que graças a tudo o que a gente fez juntos na pista, depois disso ele se destacou muito. Então, na história dele, tem um ponto em que entra o Djalma Fogaça. Como sucesso, a história dele é o Xandy Negrão, que foi o cara que entrou lá e despejou o que fosse necessário para o Andreas mostrar a capacidade dele, mas a capacidade na pista ele mostrou foi comigo.

DM – Onde entra o motivo de sua saída, o problema das cotas?

Djalma Fogaça – Eu já tinha renovado para 1997 com o Andreas e a AXE e o meu patrocinador era também uma das cotas de patrocínio do evento. Na negociação para renovar a cota, o valor tinha aumentado porque a Stock sairia da TV Bandeirantes e iria para a Globo. Para a AXE não importava a emissora porque ela usava a categoria para relacionamento com clientes. Mas o Alvaro Fiocco, que era o promotor, bateu o pé que o valor tinha de ser aquele e a AXE resolveu não renovar. E quando os caras diziam “Não”, era não mesmo. Aí os caras me chamaram, pagaram 20% da rescisão do meu contrato e no outro dia eu estava na rua, cara! Quando viu que perdeu, o Alvaro me ligou para pedir ajuda. Fui lá tentar retomar o negócio para o evento, consegui reabrir a negociação, mas eles não conseguiram chegar num acordo. A AXE realmente saiu. Aí tentei conseguir que eles ficassem só no carro, mas como saíram do evento, acabou sobrando para mim. Entendeu?

Numa guinada radical, Fogaça foi para a Fórmula Truck em 1997 com Volvo

DM – E como ficou o negócio com o Andreas?

Djalma Fogaça – O Andreas foi muito Homem comigo, cara. O Xandy estava querendo comprar as duas vagas da equipe para que o Andreas trabalhasse só para ele. Era um oportunidade enorme, ele não poderia perder um cara como o Xandy, mas mesmo assim ele me ligou e me deu três semanas. Uma semana depois eu liguei para ele: “Andreas, cara, eu não vou ficar empatando a sua vida, não. Pode acertar com o cara senão você vai perder o negócio. Acerta com o cara já porque eu não estou vendo chance alguma de eu arrumar patrocínio”. E aí ele acertou e pintou o negócio do caminhão para mim.

DM – Como você conheceu o Aurélio e foi correr de caminhão?

Djalma Fogaça – Nunca tinha nem visto uma corrida de caminhão. Lembro até hoje minha primeira corrida. A primeira vez que eu falei com o Aurélio, através um amigo meu aqui de Sorocaba, o Tonão, que me levou no escritório dele, eu pensei: “Puta merda, esse cara é louco”. Não entendia nada de automobilismo, nada, absolutamente nada. Já a primeira vez que eu conversei com ele sobre negócio foi justamente naquele dia da reunião na AXE, quando eles decidiram sair por completo.

DM – Deixa ver se eu entendi, mesmo antes de sair da Stock, pois você ainda estava tentando recuperar a AXE, já havia uma conversa com o Aurélio?

Djalma Fogaça – Exato. Como aquele negócio não tinha dado certo e tinha avançado com o Aurélio, fui na Volvo, através do meu pai, que era um dos grandes frotistas Volvo. Um amigo do meu pai, o Norton Oliveira, que é um grande amigo meu hoje também, me levou e saí de lá com dois caminhões. O Aurélio não acreditava. Ele foi comigo lá na fábrica e no avião ele me falou [imitando a voz do promotor]: “Fogaça, vou falar uma coisa pra você. Eu só vou acreditar que você vai pegar dois Volvo de lá quando ver o contrato, porque há três anos que eu tento entrar na Volvo e os caras nem atender me atendem”. Chegamos lá dentro da fábrica, o contrato já estava pronto. Foi assim.

DM – Você ia falar da primeira corrida.

Djalma Fogaça – O caminhão não estava pronto para a primeira corrida – era eu e o Gene Fireball, o americano, de pilotos, e o Beto Napolitano que fazia os caminhões -, mas a Volvo fez a gente ir para Caruaru. Cara, o autódromo não tinha nada. Asfalto era só até os boxes, o resto era tudo terra. Quando eu vi aquilo lá, aquelas equipes de caminhão, os caras tudo sujo, me deu uma frustração tão grande … “Meu Deus, onde que eu vim parar”. Aí fomos na sexta e sábado no autódromo e no domingo, lá pelas 8:30, o Fireball já estava indo para o autódromo. Eu preferi ficar, queria chegar só na hora da corrida. Quando eu fui sair do hotel, as ruas todas paradas, um movimento enorme. Tinha 8 km de congestionamento até a pista. Nunca tinha visto em corrida nem na Stock. “Que isso, está assim porque nunca teve corrida aqui de campeonato brasileiro”. Aí foi a estreia minha em Tarumã. Foram 52 mil pessoas, mais até do que na inauguração do autódromo. Falei: “Opa, essa categoria tem futuro”. E aí começamos, vivi todas as fases da categoria, até o final.

A turma que faz a Copa Truck acontecer em sua primeira temporada (Foto Rodrigo Ruiz/Copa Truck)

DM – E a Copa Truck, você acha que é uma categoria sustentável ou uma tentativa desesperada de manter as corridas de caminhões?

Djalma Fogaça – A primeira coisa é que ela nasceu na maior crise do país, o que já a torna grande. A outra é a credibilidade do Carlos Col. Na minha visão, ele é o segundo cara de automobilismo Top que eu conheço, eu conheço ele pouco, mas o cara é Top. O primeiro foi o Aurélio. Como promotor, como tudo é o Aurélio. O Col é uma outra linha, ele é mais claro nas coisas e você consegue enxergar mais o negócio. O Aurélio você conseguia interpretar na emoção e na emoção dele você sabia que o negócio ia para a frente. Um dia ele me falou: “Fogaça, você acredita na minha ‘catigoria’, você vai ganhar mais de um milhão de reais aqui”. Eu ganhei alguns milhões lá, não foi só um, mas também perdi tudo lá. Morrer, todo mundo vai morrer, mas os grandes homens são aqueles que se tornam imortais pelas suas histórias. Esse foi um cara e esse Carlos Col é outro, que na razão dele você vê que o negócio vai para a frente.

DM – Para encerrar: Qual o sonho de Djalma Fogaça?

Djalma Fogaça – O meu sonho? [Outra pausa, mais uma vez os olhos marejados] Cara, eu tenho o sonho de ver meus filhos casarem e eu estar ali no altar com eles. É só esse meu sonho, de estar vivo para isso. Eu sei que eu vou passar vergonha, vou chorar pra caramba, mas certamente serão as cerejas do bolo da minha vida. A Giovanna escolheu ser médica, está fazendo medicina, faz um esforço danado. E o Fábio é um talento danado, está aí com as corridas e vai acabar sofrendo como eu sofro. Mas meu sonho mesmo é esse, ver meus filhos construírem suas famílias. Feito isso eu posso morrer em paz.

Depressão é o cacete: Djalma Fogaça renova a motivação diariamente para seguir em frente

Foto destaque: Rodrigo Ruiz/Copa Truck

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