sexta-feira, março 29, 2024

A imprensa – e muito menos o site @GrandePremio – não é responsável pelas dificuldades de Emerson Fittipaldi

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Emerson Fittipaldi é um atuante membro da FIA Foto FIA Media)
Emerson Fittipaldi é um atuante membro da FIA (Fotos FIA Media)

Por Américo Teixeira Junior – Não tenho competência, procuração e muito menos autorização para falar pelo site Grande Prêmio, criado pelo jornalista Flavio Gomes e tocado com muito mérito pelo jornalista Victor Martins e equipe (na verdade, quem manda lá é a Suprema Evelyn Guimarães, mas não vamos deixar os meninos enciumados). Mas como há meses sou testemunha de um trabalho ético e altamente profissional desenvolvido pela equipe, pareceu-me necessário me meter onde não sou chamado para explicar algumas coisas e – por que não? – dar uma contribuição para tentar reparar algumas injustiças que estão sendo cometidas, notadamente por fãs, contra a imprensa de um modo geral e, em particular, contra o site nas últimas horas.

Desde que a TV Record exibiu no último domingo, no programa “Domingo Espetacular”, longa matéria a respeito das dificuldades financeiras de Emerson Fittipaldi, o que se viu foi uma enorme onda de perplexidade junto aos fãs. Reações de solidariedade se espalharam pelas redes sociais com a velocidade das corridas de forma absolutamente compreensível, afinal, há muito tempo que o bicampeão mundial de Fórmula 1 ganhou status de uma verdadeira instituição do automobilismo brasileiro e mundial. A merecida reverência tem razão de ser por conta da carreira que ele construiu e de tudo o que representa para o esporte.

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É um palestrante muito requisitado (Foto FIA Media)

Entretanto, para o meio automobilístico brasileiro não foi algo inédito, principalmente porque há conhecimento disso desde há anos, mais precisamente a partir do momento em que o vencedor da Indy 500 de 1989 e 1993 assumiu o papel de promotor da etapa brasileira do Mundial de Endurance. Se Emerson Fittipaldi, por meio da prova Seis Horas de São Paulo, proporcionou ao aficionado a oportunidade de ver de perto alguns dos carros de corrida mais espetaculares do mundo, maculou sua imagem por conta de problemas havidos na organização dos três eventos realizados, alguns fartamente documentados em ações na justiça.

Nesse aspecto, há uma realidade que muitos e muitos fãs insistem em querer não ver, que é o lado humano no ídolo. Todo cidadão está sujeito aos mesmos problemas do cotidiano que rondam a todos nós, mesmo sendo alguém que angariou fama, fortuna e admiração pelo trabalho que realizou e realiza. É absolutamente necessária essa constatação de que todos nós estamos passíveis de enfrentar momentos difíceis e ver o nosso caminho obstaculizado pelas ondas que nos fazem subir e descer, num eterno lutar para vencer os desafios. A começar por mim, quem está lendo isso aqui, provavelmente, tem ou já teve alguma pendência financeira a resolver, meteu-se em negócios que não deram certo e achou que uma coisa era interessante e não foi. Acontece comigo, com você e com qualquer um.

Para muitos, porém, divulgar notícias não positivas sobre um ídolo é crime. Merecem xingamentos os jornalistas que ousem a mostrar o outro lado. A ira do público é algo pertinente quando se trata de notícia inventada, manipulada, viciada. Mas quando é unicamente um mostrar da realidade, com dados e provas, aí a crítica não procede.

É verdade, também, que todo mundo tem o direito de lutar para resolver seus problemas de forma reservada, sem alarde ou publicidade. Emerson Fittipaldi está incluído nesse “todo mundo”. O que eventualmente ele tenha comprado ou deixado de comprar não interessa a ninguém. No entanto, quando na condição de promotor de um evento internacional as coisas não andam bem, é obrigação da imprensa, sobretudo a especializada, descobrir o que aconteceu? Sim, é!

– Oi Dona FIA, por que a gente não tem mais a prova da WEC no Brasil?

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Fittipaldi atua no Conselho Mundial (Foto FIA Media)

Se a resposta para essa pergunta reporta problemas de organização é, sim, notícia para um site especializado como o Grande Prêmio, que está trabalhando nessa pauta desde 2014. Poderia ter publicado antes a notícia, evitando ser “furado” pela TV Record? Sim, poderia, mas não o fez em nome do Jornalismo. Considerou que o material quer tinha em mãos, focado em questões relativas ao evento, necessitava de mais apuração. Não o fez por não ser um veículo nem oportunista e nem sensacionalista, para não ter o risco de acusar sem provas, algo bem comum no Brasil do século 21. Partiu então, a equipe, a apurar. E, creiam, apurar dá um trabalho danado, toma tempo precioso e acaba, em algumas ocasiões, por dar em nada. Já a Record fez sua apuração e decidiu colocar no ar.

Foram entrevistados pela equipe do Grande Prêmio empresários e fornecedores, avaliados processos e contratos, consultados advogados e especialistas em gestão financeira, foram analisados separadamente cada caso para eliminar o “ouvi dizer” e manter a reportagem apenas sobre fatos concretos. A reportagem da TV Record atropelou esse trabalho? Sim, é do jogo. Mérito para a emissora. Mas nem por isso o Grande Prêmio se furtou a levar aos seus Leitores as acusações concretas, com nome e sobrenome, que foram levantadas e apuradas.

Talvez não tenha sido dada, ainda, a devida importância para Emerson Fittipaldi no cenário brasileiro. A importância desse senhor, que hoje tem 69 anos, ultrapassa as fronteiras físicas de autódromos. Vai além. É por isso que tem tantos fãs e admiradores. É por isso que tem seu nome identificado com o que há de melhor e mais proeminente em termos de esporte a motor. É por isso que é um atuante palestrante. É por isso que tem, nesse momento, em torno de si uma onda de solidariedade. Mas nem por isso merece “foro privilegiado”, para usar um termo em moda neste Brasil de loucura política. Então, os problemas do empresário Emerson Fittipaldi não foram criados pela imprensa, assim como não o foi o sucesso do piloto Emerson Fittipaldi.

Que ele consiga resolver essas questões e viver com tranquilidade e, tenho certeza, a mesma imprensa que está mostrando o momento difícil – e que já mostrou seus momentos de glória – saberá honrá-lo novamente com a atenção ao mostrar que esse brasileiro conseguiu, mais uma vez, suplantar obstáculos e vencer. Mas não esperem acobertamentos por parte da imprensa, sobretudo do Grande Prêmio, pois, se assim o fizer, deixa de ser imprensa para ser uma coisa qualquer.

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Emerson Fittipaldi em solenidade com a presidente da República Dilma Rousseff, o secretário geral da ONU Ban Ki-moon e o presidente da FIA Jean Todt (Foto FIA Media)

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