Revista Warm Up: Receita para começar a resgatar o automobilismo de base no Brasil

Publicado originalmente na edição 34 da revista WarmUp e antes do lançamento da categoria Fórmula Júnior, o texto abaixo é uma ideia, um exercício do pensar em construir …

Por Americo Teixeira Jr. Foto Planet Kart

O automobilismo de base no Brasil está definhando, mas não está morto. É claro que pode piorar, e muito, mas pode muito bem ser recuperado. Basta um choque de realidade, vontade política e profissionalismo. É no bojo desse tripé que acontecerão as adesões, patrocínios e divulgação. A ideia tem de ser abraçada por quem quer trabalhar e vê a necessidade de mudar radicalmente.

O quadro dramático nesse setor não influencia apenas o baixo número de novos talentos para o automobilismo internacional. Essa questão, realmente, não é a mais importante. Não vai alterar o dólar ou desgraçar o PIB se amanhã não tivermos nenhum representante na Fórmula 1. Chato? Sim, mas nada que leve ao suicídio. Está aí do lado a Argentina que não nos deixa mentir.

A gravidade principal está em outro campo, muito mais sensível e importante do que acordar nas manhãs de domingo para ouvir Galvão Bueno gritando algo como “Fulano de Tal do Brasilllll”. A coisa é social e tem relação com emprego, arroz e feijão na mesa, filho na escola e outras coisas realmente vitais para a transformação de um monte de pele e osso em cidadão.

Quando uma categoria acaba ou há descontinuidade de uma próspera carreira, em paralelo ao drama pessoal do esportista surge o desemprego de muita gente. E quando se fala em “desemprego de muita gente” é errado pensar somente naquela “meia dúzia” que trabalhava em alguma estrutura e agora ficou na mão. O automobilismo brasileiro, segundo estudos da CBA durante a gestão do ex-presidente Paulo Scaglione, gera algo em torno de 100 mil empregos diretos e indiretos. Trocando em miúdos, trata-se de um setor da economia, sim, e precisa ser encarado como tal.

O automobilismo é uma escada, cujo degrau mais alto é a Fórmula 1. Sempre foi assim e continua sendo. Como é absolutamente evidente que as ferramentas para atingir tal meta não estão disponíveis para todos e uma “multidão” acaba ficando pelo caminho. Entretanto, quanto mais opções de categorias e campeonatos o esportista tiver ao seu dispor, mais condições ele terá de continuar na profissão e, no todo, uma espécie de círculo virtuoso contribuirá para o crescimento do esporte.

É óbvio que, também para o negócio, é importante ter alguém forte que mereça a torcida na “manhã de domingo” (sim, entre aspas, porque já foi o tempo em que as corridas eram predominantes na Europa). O sucesso no topo gera aquele frenesi, aquela vontade da molecada ser igual ao ídolo, correr para o kartódromo e realizar o sonho, grande cobertura da imprensa, praças esportivas de qualidade, público nos autódromos, desenvolvimento tecnológico, patrocinadores, geração de serviços especializados, retorno de mídia e muito mais. Tudo contribuindo para a formação de uma feliz “bola de neve”.

Mas para que esse “bolo” seja saboroso e grande o suficiente, alguns “ingredientes” são fundamentais, sem os quais a coisa desanda e gera um automobilismo capenga como o atual. Sem profissionalismo, senso de realidade, investimento da iniciativa privada, maturidade comercial, projeto industrial, entre outras coisas, não vai dar em nada.

Dicas básicas

Pode parecer arrogância ou petulância gerar uma receita para “salvar o automobilismo brasileiro”, mas o fato é que podem surgir idéias boas (não necessariamente as aqui descritas) em exercícios como esse. Antes de tudo, antes de colocar a “mão na massa”, há algo conceitual que precisa ser introspectado:

Realidade – Diferentemente de reunir os amigos em um campinho, calçar um tênis para praticar atletismo ou colocar um calção e se atirar numa piscina para romper seus próprios limites, praticar automobilismo requer recursos. É um esporte caro e essa é a realidade. Paciência se o “novo Senna” é aquele garotinho que passa caminhando defronte ao kartódromo porque não tem dinheiro para pegar o ônibus e ir para a escola. As necessidades mais prementes são saúde, educação, segurança e moradia. Definitivamente, correr de kart e automóvel não faz parte dessa lista;

Galinhas dos ovos de ouro – Apesar do seu caráter elitista, a prática do automobilismo, em sua base, não é prerrogativa apenas de milionários, mas também de uma classe média que pode ir além daquilo que é básico. É só dar uma olhadinha na pirâmide social para perceber que há um inesgotável universo de potenciais adeptos do esporte a motor. Mas não adianta “matar a galinha dos ovos de ouro” com preços abusivos e políticas de exclusão praticadas por segmentos que deveriam ser os primeiros a salivar diante de novos clientes. Preparadores, fabricantes, comerciantes, prestadores de serviços e entidades desportivas precisam pensar o esporte como escala industrial e não “alta costura”, de escala artesanal;

Vontade política – Inércia e esporte não coabitam. Esperar que haja uma iniciativa pioneira que resgate a base do esporte, convenhamos, não é o melhor caminho. A vontade política precisa estar presente – e de forte robusta – para que alguns nós tenham de ser desatados. E essa tarefa, até por dever estatutário, cabe à Confederação Brasileira de Automobilismo e suas federações;

Iniciativa privada – Governos que se meteram a construir autódromos e kartódromos têm, por obrigação, mantê-los e se afastar, como dizem que o diabo foge da cruz, do péssimo exemplo dado pelo município do Rio de Janeiro recentemente. De resto, o poder público tem de se preocupar com coisas mais importantes que pistas de corrida. O automobilismo como um todo precisa reconquistar a credibilidade para que se multipliquem iniciativas como o Velopark, Beto Carrero, Piracicaba, Granja Viana e a pista nova do Eduardo de Souza Ramos. E, melhor, em parceria com grandes corporações para, para a transformação de suas áreas em arenas desportivo-promocionais.

A base está na escola de pilotagem

O fomento do esporte passa, necessariamente, pela formação nos bancos escolares. A chegada de muitos jovens ao esporte não acontece, por exemplo, diante da necessidade de comprar um kart ou um carro de corrida. Esse ingresso precisa ser dirigido, barateado e nada mais propício do que através de um custo em escola de pilotagem especializada.

A CBA tem de assumir a responsabilidade de criar um projeto nacional de formação de pilotos, obrigando que suas federações mantenham, como departamentos fixos em suas estruturas ou por meio de parcerias, escolas de pilotagem sob suas responsabilidades. Não seria meramente um ato corriqueiro de transferência de responsabilidade da “união” para os “estados”, mas sim na forma de incentivo da entidade máxima para os organismos estaduais;

O primeiro passo para capitanear um projeto nacional de escolas de pilotagem é formalizar um projeto técnico, profissional e transparente que possa atrair patrocinadores e simpatia da mídia e dos fabricantes. Além de trabalho de especialistas, com visão de futuro, um projeto dessa magnitude tem de sem conduzido por um grupo com credibilidade. Se não a tem, trate de conquistar ou pule fora.

O projeto nacional de formação de novos pilotos através das escolas de pilotagem de kart e monopostos tem de ser macro, abrangente, com potencial, inclusive, de ser acessível a aspirantes a pilotos da América do Sul e, por seu cunho de integração atrás do esporte, ter apoio da Fórmula 1 e da própria FIA. Pensando grande e munindo-se de parceiros que não ligariam seus nomes a falcatruas, haveria condições pela de buscar um patrocinador de porte. Nada de governo, mas iniciativa privada.

O acordo seria também com os fabricantes, de modo a fornecer equipamento com preços acessíveis. Os empresários precisam entender que se trata de um investimento no futuro, não uma mera operação de venda de kart. Gerando um equipamento passível para a formação de pilotos, o ganho principal virá quando estes deixarem os “bancos escolares” para se transformarem em competidores efetivos.

Não sejamos tolos. Ninguém está no automobilismo por filantropia ou para perder dinheiro. Mesmo numa operação como essa, quem estiver trabalhando tem de ganhar dinheiro, afinal, é um trabalho. Mas como não adianta nada agir como se não houvesse amanhã, a escola de pilotagem tem de ter acesso a preços menores, resultado da contribuição dos fabricantes ao processo, que seria a diminuição dos lucros no equipamento como um todo (e peças de reposição), em troca de um contrato que lhe garanta a manutenção do negócio com aquela escola, como aval da CBA.

A negociação do preço tem de ser feita pela CBA. Só depois disso as federações, visto a responsabilidade oficialmente assumida de implantar em seus respectivos estados, entrariam em cena, passando o direito para seus representantes credenciados para ministrar o curso. Caberia às federações a responsabilidade de fiscalizar esses cursos e dar o suporte legal ao empreendimento em sua região.

Cumprida essa fase, o mesmo espírito de fomento seria adotado para o ingresso desse ex-aluno, agora piloto, no esporte. Essa dinâmica toda geraria uma quantidade maior de pessoas interessadas, a partir de uma realidade financeira mais acessível

O mesmo modelo deve ser adotado para escola de monopostos. A CBA tem de resgatar os chassis da antiga Fórmula Jr. para permitir que sirvam de treinamento educacional. Numa parceria com a Vicar, que reassumiu a Fórmula 3, pode muito bem existir uma categoria de monopostos básica, tendo como base aqueles carros velhos. Por que não? Talvez não seja o ideal, mas certamente é algo melhor do que existe hoje.

Se conselho fosse bom a gente não “dava”, “vendia”. Mas vai aqui uma contribuição e uma chance de resgate não apenas de categorias que antes já foram um sucesso, mas também da prática do “fazer”. Essa anda meio perdida em substituída pelo “supervisionar”. Quem “supervisiona” muito e “faz” pouco, correr o risco de se ver sem o que “supervisionar” logo, logo. Fica a dica. É de graça.

2 Comments

  1. JCFrancez 28 de fevereiro de 2013 at 22:48

    Belas palavras amigo, mas sinto fanta tb de de uma categoria barata, regional, a exemplo do q a formula 1300 esta fazendo e ai sim, um campeonato nacionak em uma etapa..a exemplondo q acontece nos eua emndiversas categorias…abcs

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  2. Jhonny Bonilla 24 de fevereiro de 2013 at 13:15

    Olá Américo !!

    Tudo bém , gostaria de te informar que lendo o teu email ví que talvez não tenhas conhecimento , mas o Presidente da CBA Cleyton Pinteiro resgatou todos os carros da Formula Júnior e através de uma parceria com o presidente da Federação gaucha de Automobilismo Carlos de Deus (Portugês como é conhecido ) , remontou o projeto para jovens talentos do kart , já está em pleno andamento e no dia 24 de março estréia em Tarumã a nóva Formula Junior , já tem 12 pilotos com contrato assinado e ainda restam 3 vagas para esta primeira temporada , o custo é muito baixo não chega a R$ 70.000,00 a temporada !!!
    Serão 8 Rodadas duplas em Guaporé , Tarumã , Santa Cruz do Sul e Velopark , uma oportunidade única pelo preço e pela escola de poder participar em 4 Autódromos diferentes , os pilotos interessados podem entrar em contato com a Federação Gaúcha , agora no dia 10 de Março terá um treino extra para aqueles que entrarem agora , ajuda a divulgar isso , sei que gostas de Automobilismo e é uma ótima notícia , já temos uma nova luz no fim do túnel !!! Sds. Jhonny Bonilla (51) 99871386 , [email protected]

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